O fim macabro de "Buiú"
Em 1994, minha família se mudou para a rua Maria Manso, onde ainda moro com minha mãe, atualmente com 77 anos. Na época, a casa, ainda sem o acabamento que tem hoje, ficava em uma rua praticamente deserta, muito diferente dos dias atuais.
Construída em um terreno desnivelado, possui uma varanda que, em 1994, tinha vista para o pasto de uma fazenda, onde atualmente possui prédios e está instalado o quartel do 6º Pelotão do Corpo de Bombeiros. No entanto, em 1994, o que se via da varanda de nossa casa eram árvores nativas, cupins e muito mato.
O terminal rodoviário ainda estava em construção e a rua Messias Augusto da Silva terminava as margens do ribeirão Fartura, sendo todo o restante de terra, até as margens da BR 262, pasto.
Me lembro que foi em uma manhã de sábado, não podendo precisar a data, que, ao chegar a varanda, vi uma grande movimentação de pessoas em torno de algo caído sobre a grama no meio do pasto.
Curioso, corri para apanhar um antigo binóculo e com ele pude ver que se tratava de um corpo, pequeno, de homem, negro e que pelas feições das pessoas, deveria estar morto.
Como era perto de casa, decidi ir até o local e lá descobri que se tratava do corpo de um adolescente, conhecido no meio policial por pequenos furtos (em 1994 Nova Serrana ainda não registrava assaltos, e a localização de um número maior de buchas de maconha, era manchete de capa dos noticiários locais).
Negro como a noite e medindo pouco mais de um metro e meio de altura, o adolescente havia adquirido fama de mau e colocava medo nas beatas, nos respeitáveis senhores da época e principalmente nos demais adolescentes de sua idade. Eu mesmo morria de medo do “Buiú”, como era conhecido.
Passava o dia bebendo vodca e fumando maconha. Muitas vezes era visto sentando a porta de sua casa, sobre um monte de tijolos com uma garrafa na mão e um maço de cigarros, além do baseado.
Nas minhas pesquisas, ouvi de um gerente de uma fábrica que, muitas vezes, ao chegar de manhã para abrir as portas da empresa, encontrava o menor deitado sobre sacos de PVC, matéria prima para fabricação de solados para calçados.
Depois de algumas vezes, para não ser encontrado, ele retirava alguns sacos e amontoava em um canto, deixando um espaço, de forma que quem chegasse ao local não o visse entre os sacos e a parede. O gerente conta que tinha dó da vida que o menor levava; que sabia que seu futuro era incerto. Então, quando o flagrava saindo de seu “esconderijo”, lhe oferecia um pão com manteiga e um copo de café. No final o menino acabou ficando freguês.
Agora, aquele “moleque” valente estava ali, sem vida, frágil, nem um pouco ameaçador, com o corpo totalmente dilacerado. Havia sinais de espancamento em seu rosto. Sua garganta havia sido rasgada, assim como sua barriga. Suas vísceras haviam sido remexidas e ao seu lado pedaços de pau sujos de sangue, deixados ali por seus algozes.
Semanas depois, após a parca força policial de Nova Serrana ter inquiridos os poucos frequentadores da noite na cidade, testemunhas afirmaram que a vítima havia sido morta por dependentes químicos.
Segundo apurou na época dos acontecimentos, “Buiú” estava na praça José Batista de Freitas, (praça da matriz), em companhia de outros viciados quando, tomou posse de duas buchas de drogas (não se sabe se de maconha, cocaína ou crack) e tentou fugir, seguindo em direção ao pasto, onde poderia se esconder.
No entanto, os autores do crime o alcançaram e para não entregar a droga, a vítima teria engolido os papelotes. Na ânsia por reaver a droga, os autores mataram “Buiú” e abriram seu corpo, começando pela garganta, depois procurando no estômago e no intestino, deixando o corpo completamente dilacerado.
Por mais macabra que a história possa parecer, tal quais aqueles filmes de terror, altamente macabros, a história é real e eu fui testemunha ocular, não do crime, mas da localização do corpo e de como fora encontrado.
Embora tenham decorridos 20 anos, a imagem do corpo destroçado daquele menino ainda é muito nítida na minha memória, como se o crime tivesse ocorrido há poucos dias.