O Agente do Mal
Agente do mal.
Assim resolvi denominar aquela pessoa que, sendo infeliz, não aceita que outro(s) o seja(m) e tudo fazem para igualá-los a si.
Por sinal esse tipo de atitude só pode mesmo partir de alguém de fato infeliz, conquanto uma pessoa feliz que ver aos outros também felizes.
Voltando ao alvo dessa nossa reflexão, o Agente do mal, ele não suporta ver um ambiente estabilizado que logo procura meios para tentar desestabilizá-lo. E as artimanhas e pretextos utilizados para consecução do seu objetivo são bastante variados. Por exemplo: logo ao chegar a um ambiente procura logo algo ou alguém para criticar ou “alfinetar” e não sossega enquanto não lograr êxito em seu intento.
É alguém que jamais passa despercebido, pois faz questão de atrair para si todas as atenções. E, sendo assim, passa a ser “monitorado” por muitos, apesar de quase sempre ser ignorado.
Uma vez estando em um ambiente fora do seu habitat natural, procura logo encontrar algo que possa ser criticado. Nada passa despercebido pela sua acurada capacidade de percepção.
Atente-se para o fato de que embora uma determinada pessoa, coisa, lugar ou circunstância seja alvo de crítica do Agente do mal, isso não revela, em absoluto, que de fato a crítica seja procedente. Quase sempre se revela uma distorção do seu olhar crítico, um desvio que somente ocorre em suas “lentes deformadas” de percepção.
Certo dia em uma confraternização da qual participei deparei-me com alguém assim, que logo na chegada já foi se revelando ao criticar a qualidade do que lhe era servido.
À medida que o tempo ia passando e o ambiente ia se mantendo estável, aquele Agente do mal foi se sentindo incomodado.
Nada de errado com as pessoas ou com o ambiente mas é exatamente isso o que incomoda tanto alguém dessa natureza, a harmonia.
A pessoa, inquieta, olhava para um, olhava para outro, com o intuito de alimentar sua natureza obsessiva e compulsiva.
Em dado momento levantou-se, foi até o freezer e retirou uma cerveja. Olhou-a e, ao perceber que não se encontrava no ponto desejado por ela, ofereceu-a para alguém. Ainda com o freezer aberto, procurou e não encontrou uma bebida que estivesse conforme suas convicções e então verbalizou em bom tom: “aqui, não tem cerveja gelada não? Alguém desligou o freezer? Ah não viu, vou te contar!”.
Retornou bronqueada à mesa em que estava, distribuiu o líquido para si e para os que lhe estavam mais próximos, fazendo cara de poucos amigos.
Transcorrido tempo suficiente para que aquela garrafa se esvaziasse, talvez alguns minutos além disso, retorna a pessoa com o fito de apanhar outra cerveja. Frustrada, desferiu: “roubaram a minha cerveja que eu deixei gelando. Aqui só tem ladrão viu, ô gente à-toa!”.
Não poupou a ninguém, nem a si própria, visto que ela também se encontrava ali. Ela forçava o confronto.
Voltando à mesa continuou com seus impropérios, mas como ninguém lhe deu atenção, ficou por ali resmungando.
Não demorou muito o freezer foi reabastecido e o Agente do mal, mais calmo, pode continuar a sua ingestão alcoólica desregrada.
Rafael Arcângelo Machado – julho de 2014.