O menino invisível

Um pequeno menino encolhe-se em si mesmo, ajunta seus pés contra o corpo, descendo sua cabeça entre os joelhos. Dos seus olhos brotam lagrimas que escorregam-lhe na face triste. É somente um garoto, mais um em meio a tantos outros, invisível para as várias pernas que passam-se tão de pressa que não notam o seu derredor.

Por muito tempo essa foi sua sina, viver no meio de tantos feito completo invisível. Era como se a paisagem de concreto o tivesse tragado, tornando-o mais um pedaço macilento daquele cinza presente na gigantesca selva de pedra. O garoto tornou-se somente um objeto naquela paisagem até que um brado rasga o frenesi do dia - a - dia, era o menino, havia tirado um grito seco e rancoroso de desabafo, um grito que de seus pulmões tinham-lhe tentado roubar.

Mas nem isso o ajudou, sua voz sumiu, por um minuto havia abalado o ar ao seu redor e da mesma forma tão inesperada que surgiu, foi-se também no acalmar das horas. Chegou apenas como um zumbido aos ouvidos alheios, e morreu no completo esquecimento, como parte dispensável de tudo aquilo. Desfez-se na freada brusca do carro que por pouco não atropelou um pedestre na faixa, simplesmente caiu desfalecido sob o caminhar acelerado dos transeuntes, e voltou-se para o garoto como um grande "NÃO" em resposta aos seus anseios.

Após isso, após os múrmuros soltos pelas pessoas, o garoto toma seu lugar na calçada, ajunta-se novamente e caído ali ao chão, torna seu corpo num ultimo clamor, que diz mais sobre os outros do que sua própria situação.

Alexandre Rodrigues de Lima
Enviado por Alexandre Rodrigues de Lima em 27/09/2014
Reeditado em 25/03/2016
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