O menino invisível
Um pequeno menino encolhe-se em si mesmo, ajunta seus pés contra o corpo, descendo sua cabeça entre os joelhos. Dos seus olhos brotam lagrimas que escorregam-lhe na face triste. É somente um garoto, mais um em meio a tantos outros, invisível para as várias pernas que passam-se tão de pressa que não notam o seu derredor.
Por muito tempo essa foi sua sina, viver no meio de tantos feito completo invisível. Era como se a paisagem de concreto o tivesse tragado, tornando-o mais um pedaço macilento daquele cinza presente na gigantesca selva de pedra. O garoto tornou-se somente um objeto naquela paisagem até que um brado rasga o frenesi do dia - a - dia, era o menino, havia tirado um grito seco e rancoroso de desabafo, um grito que de seus pulmões tinham-lhe tentado roubar.
Mas nem isso o ajudou, sua voz sumiu, por um minuto havia abalado o ar ao seu redor e da mesma forma tão inesperada que surgiu, foi-se também no acalmar das horas. Chegou apenas como um zumbido aos ouvidos alheios, e morreu no completo esquecimento, como parte dispensável de tudo aquilo. Desfez-se na freada brusca do carro que por pouco não atropelou um pedestre na faixa, simplesmente caiu desfalecido sob o caminhar acelerado dos transeuntes, e voltou-se para o garoto como um grande "NÃO" em resposta aos seus anseios.
Após isso, após os múrmuros soltos pelas pessoas, o garoto toma seu lugar na calçada, ajunta-se novamente e caído ali ao chão, torna seu corpo num ultimo clamor, que diz mais sobre os outros do que sua própria situação.