O Pêncil e a “próxima”
Marcos Barbosa
Um dos meus programas preferidos aqui na Chácara Cio da Terra é ouvir as histórias de escola da professora Socorro Maranhão, minha companheira. Outro dia ela contou a história do pêncil e a próxima. Imaginem o significado de pêncil e próxima para uma senhora sem instrução formal, mas muito educada e mãe de um menino que estudava numa determinada Escola Classe de Brasília, aqui pertinho de Águas Lindas.
Não vou revelar o significado de “pêncil e próxima” para não tirar ao leitor a oportunidade de forçar o raciocínio e descobrir o significado sexual destas duas palavrinhas. O fato é que havia um aluno de aproximadamente 12 anos, que não deixava nenhuma professora dar aula, perturbava, era inquieto, nervoso e não aceitava os professores e a diretoria da escola chamarem sua atenção.
O relacionamento da Escola Classe com esse menino foi se agravando a tal ponto que o espaço escolar já estava virando uma praça de diversão para o garoto, com rendimento zero,,, então a professora de sua classe, a diretora e orientadora pedagógica resolveram de comum acordo que só restava uma solução: apelar para a autoridade dos pais.
Uma vez decididos a convocar os pais, tentaram através do próprio menino o envio de um bilhete convidando-os para uma reunião. Frustradas as três tentativas, sempre acompanhadas de uma desculpa esfarrapada do garoto, descobriram que o próprio aluno estava jogando os bilhetes fora e os pais não tomavam conhecimento do que se passava.
Então, a vice-diretora resolveu enviar um funcionário da Escola até a casa do garoto e convocou a mãe dele a comparecer para tratar de assunto relacionado ao seu filho.
O leitor deve estar curioso para saber o novo significado de “ pêncil e próxima”. Calma,,, “jazim” nós chegamos lá.
Passados uns três dias a mulher chega ,,, vai direto à diretoria e lá,,, encontrando a vice-diretora, pergunta:
Dona diretora, o que está acontecendo com o meu filho aqui?... Eu não vejo ele fazer tarefa, nunca pegou no livro em casa... Ele aprontou alguma coisa errada por aqui?
Sente-se mãezinha, fique calma. Quer tomar um copo d’água,,, um cafezinho?
Eu não quero nada não! Eu só quero saber porque vocês me chamaram aqui... Estou preocupada,,, esta noite eu nem dormi. Isto está me deixando “neivosa”.
Acontece,,, que o seu filho,,, é hiperativo...
O que é isso? Alguma doença?
Não,,, isso quer dizer que ele não pára quieto, perturba a escola inteira, não estuda e não deixa os coleguinhas estudarem. Já fizemos tudo que poderiamos fazer ao alcance da escola. Mudamos de professora várias vezes, por último, transferimos para a sala de um professor homem, pra ver se ele respeitava e nada deu resultado. Foi por isso que chamamos a senhora aqui,,, para nos ajudar a resolver o problema do seu filho.
Sabe diretora, eu “vô contá logo u purtuguês” certo, rasgado... “ O pai dele tá com pobrema na próssima e tá afetano o pêncil”,,, fica “neivoso” e bate todo dia no menino. O menino também fica “neivoso” ,,, desse jeito que a “sinhora tá veno aí”.
A vice-diretora, por um instante ficou olhando para a mãe com aquele olhar de Mona Lisa, de quem não entendeu nada, até traduzir mentalmente o significado de pêncil e próxima. Uma vez entendida a mensagem, sem perguntar nada, dispensou a mãe e mandou chamar o pai para uma sessão de aconselhamento. Quanto ao menino, foi tratado pela própria professora, contadora dessas histórias de escola que é uma psicóloga prática e nesses casos dava uma atenção especial à criança.
Não é todo dia que se encontra professores e diretores com essa paciência e disposição para lidar com os problemas da comunidade escolar. Se fosse deixar por conta do governo, dificilmente o “pobrema da próssima e do pêncil daquele pai de família seria resolvido.”
Moral da história, segundo informações de fontes que não podem ser reveladas, o menino foi tão bem orientado pela professora, que hoje é um homem normal, bem sucedido na vida e chegou a ser uma autoridade importante na Capital Federal.