MENINAS MÁS (parte 8)

No final das contas ela acabou indo para minha casa onde almoçamos juntas. Minha vergonha foi passando aos poucos, menos a raiva que só aumentou. Felizmente Aline ficou comigo e a tarde passou numa boa. Inventamos algumas receitas de sobremesas e estávamos nos divertindo muito. Quando era aproximadamente cinco horas da tarde o interfone lá de casa tocou.

Gabriela estava lá embaixo e queria subir. Pelo menos era que o porteiro me dizia.

Acho que fiquei pálida. Aline me encarava de olhos esbugalhados, pressentindo que algo estava errado. Sussurrei para ela:

- A puta da Gabi está lá embaixo e quer subir.

- E o que você vai fazer?

Peguei o interfone e falei para o porteiro:

- Ela está proibida de aparecer aqui em casa. Pode dizer isto a ela.

O porteiro ficou em silêncio por alguns instantes e disse meio sem jeito:

- A moça está aqui embaixo chorando.

- Chorando? - olhei para Aline.

- Chorando? - repetiu ela.

- E bastante - emendou o porteiro.

- Tudo bem… Deixe que ela suba.

- Você vai dar assunto para esta falsa?

Aline me encarou com as mãos na cintura como se não acreditasse na minha resolução.

- Você tem certeza do que está fazendo? - Aline estava inconformada.

- Quero ver o que aquela cara de pau tem pra me dizer.

Não demorou nem cinco minutos o elevador se abriu e Gabriela apareceu com a cara inchada e os olhos vermelhos. Minha intenção era falar com ela na porta, mas como a conversa poderia terminar aos gritos resolvi deixá-la entrar. Quando Gabi se deparou com Aline bem sentada no sofá com cara de paisagem levou um susto.

- O que ela está fazendo aqui?

- Somos amigas - eu respondi sem paciência. - E é melhor que você diga logo o que quer. Tenho mais o que fazer.

Gabriela ficou com ciúmes de Aline e eu vibrei.

- O assunto é particular.

- Aline, você pode esperar no meu quarto, por favor?

Sacudindo os ombros, Aline fez o que eu pedi.

- Vai, desembucha.

Enxugando uma lágrima, Gabriela disse com a voz trêmula:

- Desculpa.

- Pelo o quê mesmo? - perguntei cínica.

- Pelo que Vanusa fez esta manhã. Com Mateus. Eu… não deveria ter contado. Mas contei e estou super arrependida.

- Você fez de propósito! - acusei. - Só para se exibir para elas!

- Mas eu me arrependi!

- Não quero suas desculpas!

- Por favor, Paula! Em nome da nossa amizade!

Acho que fiquei vermelha quando escutei aquilo. Amizade? Desde quando?

- Suma daqui agora. Não somos mais amigas. Acho que nunca fomos. Você me trocou muito fácil.

Eu escancarei a porta e Gabriela arregalou os olhos como se não estivesse acreditando que eu estava a pondo no olho da rua.

- Bem, eu tentei - devolveu ela passando reto por mim. - Você vai se arrepender de ter feito isto comigo.

Ela saiu e eu fechei a porta com um pontapé. Aline saiu do quarto e veio ter comigo. Havia escutado tudo e estava abismada.

- Nunca pensei que ela fosse tão cara de pau.

Esbravejei:

- Eu vou matar estas três!

Era a segunda vez naquele dia que eu afirmava aquilo.

*

Depois daquela minha negativa imaginei que Gabriela fosse largar do meu pé. Realmente nós não tínhamos mais nada a ver. Na minha cabeça fervilhavam mil ideias de vingança. Só faltava escolher a melhor de todas.

Mas o meu corridão em Gabi não surtira muito efeito. No dia seguinte, logo depois do intervalo e antes de o professor chegar, ela surgiu de repente na minha frente. Acho que deve ter passado a noite chorando e em crise dado o tamanho do inchaço dos seus olhos. Nem me abalei. Queria que ela se explodisse e levasse suas amiguinhas junto.

- Posso falar com você?

- Não - respondi imediatamente e fazendo de conta que procurava alguma coisa na minha mochila.

- Não resolvemos nosso assunto ontem.

- E nem vamos resolver.

- Posso conversar com você depois da aula?

Fomos interrompidas por uma voz estridente e irritante.

- Gabizinha! Tenho uma coisa para mostrar para você. Vem comigo.

Gabi não teve tempo de reagir. Vanusa a puxou pelo braço com um solavanco e a arrastou até onde elas sentavam. Por alguns segundos até fiquei com pena. Gabriela estava totalmente dominada pelas duas. Será que ela gostava daquilo? Acho que sim.

- Você viu aquilo? - perguntou Aline sem fazer força para falar baixo. - Ela não tem vontade própria?

- Nunca vi uma cena tão ridícula - desabafei. - Morro e não vejo tudo.

Aline baixou o tom de voz e disse:

- Bolei uma maneira de cravar com uma delas.

- Jura? - fiquei animada. - Me conta!

- Aqui não. Na saída e longe da escola.

Não aguentei de curiosidade. A aula se arrastou para piorar tudo. No fim das contas, Aline foi lá para casa para que a gente pudesse ficar mais à vontade. Esquentei o almoço no micro-ondas, servi comida para nós duas e nos sentamos frente a frente.

- Fala - pedi enfiando um pedaço de carne na boca. - Não aguento mais.

- Está vendo esta gargantilha aqui?

Aline apontou para uma bela gargantilha que enfeitava seu pescoço. Eu já havia reparado nela. Era simplesmente linda.

- O que tem ela?

- Vamos fazer com que apareça dentro da mochila da Vanusa. Ou da Sarah. Gabi? Qual você prefere?

Quase me engasguei. Aquela ideia era demais. Mas e a logística?

- Você quer acusar alguma delas de roubo?

- Não é uma boa ideia?

Acho que meus olhos deveriam estar brilhando. Mesmo assim fiquei com um pouco de medo.

- Mas como faremos isto?

- Simples, já pensei em tudo. Eu deixo a gargantilha sobre minha mesa quando sairmos para o intervalo. Antes de a turma voltar, eu chego primeiro e a escondo ela na mochila de uma delas. Saio e volto com o resto da turma e faço o maior fiasco que a gargantilha sumiu. Lembra aquela vez que sumiu uma caneta da professora de matemática e a diretora revistou mochila por mochila? Bolsa por bolsa?

- Será que vai dar certo?

- Claro que vai. Só temos que tomar cuidado para que ninguém me veja.

- Você que fará tudo?

- Deixa comigo. Mas afinal, você prefere foder com a vida de quem?

- Ah, pode ser da Vanusa mesmo. Foi ela quem contou tudo para o Mateus.

- Então ela que me aguarde.

Nós rimos feito loucas. Eu mal podia esperar pelo dia seguinte.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 23/09/2014
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