A Escapadinha

Em meados da década de 60 e início da década de 70, no bairro de Santa Efigênia em Belo Horizonte – MG, havia dois campos de futebol, o campo do Cruzmaltino e o campo do Najá. Havia também, próximo à igreja do Divino Espírito Santo, um local denominado “campinho”, que ficava próximo a algumas mangueiras.

Era o costume da garotada reunirem-se nesse campinho, todo final de tarde, para jogar a chamada “escapadinha”. Eles aproveitavam a distância de aproximadamente 3(três) metros entre uma mangueira e outra e o paralelismo existente entre elas, para sobreporem um galho de árvore ou um bambu logo acima dos troncos das árvores, para servirem de travessão, formando grosseiramente a trave do gol.

Normalmente jogavam dois contra dois, ou, até que chegassem mais pessoas, a brincadeira se dava jogando um contra um.

À medida que iam chegando mais participantes eles se uniam para fazer a primeira de fora, a segunda e assim por diante.

O jogo acontecia da seguinte forma:

— uma dupla ia para o gol e a outra, a uma distância de aproximadamente 10 (dez) metros, chutava contra o gol dos defensores;

— cada um da dupla dava 3 (três) chutes contra o gol adversário;

— quando um parceiro de dupla ia para o chute, o outro se posicionava em frente ao gol para esperar o chamado rebote, que acontecia quando os defensores não conseguiam segurar a bola firme, ou quando esta batia na trave;

— aquele que ia para a cobrança procurava chutar o mais forte que conseguia, tentando fazer o gol ou dar pouca chance de os defensores conseguirem agarrar a bola firme;

— ocorrendo o rebote o parceiro daquele que estava chutando aproveitava e fazia o gol, ou quando não conseguia, driblava e passava a bola para o seu parceiro, sempre buscando fazer o gol;

— na hipótese do rebote ou da bola na trave, apenas um dos defensores saia da área para tentar impedir que os adversários fizessem o gol. Enquanto isso o outro parceiro defensor ficava no gol (embora não fosse proibido sair), com o mesmo propósito de impedir o êxito adversário;

— aquele que ficava na defesa do gol, só podia pegar a bola com a mão estando dentro da área;

— finalizados os 3 (três) chutes de cada um e devidamente contabilizados os eventuais gols marcados, a dupla que estava na defensiva ia para o chute e os que estavam atacando passavam a defender (a situação se invertia);

— vencia a dupla que tivesse o melhor saldo de gols;

— não havendo dupla vencedora, iam para a disputa de dois chutes, depois de um e, persistindo o empate, tiravam-se par ou impar para saber que dupla seria a vencedora.

É evidente que muitas brigas e discussões aconteciam durante a brincadeira, até que escurecia e toda a discussão e conflito ia-se resolvendo a caminho de casa.

Rafael Arcângelo
Enviado por Rafael Arcângelo em 22/09/2014
Reeditado em 30/09/2014
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