PRIMAVERA EM LAGOA FORMOSA
Quando chegava a primavera, que bonita que ela era, que bonita era aquela era.
As crianças brincavam na praça ensolarada no primeiro domingo de primavera do ano de 1962.
Padre Anastácio que morava naquela comunidade, já bem cansado, recebia os fiéis que vinham para a Missa das crianças às dez horas.
Uns fiéis cativos do Senhor Jesus Cristo e outros, fiéis às pescarias que aconteciam praticamente todos os dias às margens do rio Camboriú com a presença do padre Anastácio e seu cachorro Jonas.
As crianças brincavam, corriam saltitantes antes da Missa.
O pipoqueiro ficava estourando o milho pipoca e enchendo saquinhos de papel de pipocas fresquinhas para serem vendidas depois da celebração Eucarística. Pois antes da missa não podia comer nada e nem beber.
Os compadres com os ternos de casimira ou linho fino, com os chapéus de pelo de lebres, e sapatos impecavelmente engraxados conversavam na praça florida daquela cidadezinha do interior mineiro. Enquanto isso, as comadres com seus vestidos estampados e rodados, seus penteados elegantes, suas sandálias e sapatinhos baixos bem desenhados, proseavam sossegadas com suas sombrinhas coloridas para se protegerem do sol primaveril.
Algumas famílias mais bem posicionadas socialmente falando chegavam de jeep, Gordini ou DKV. As menos favorecidas aproximavam-se da praça com suas charretes bem pintadas e seus cavalos bem cuidados.
Os sinos da matriz tocavam chamando os fiéis para a Santa Eucaristia.
Na missa, as mulheres à esquerda da Igreja e os homens á direita de quem entrava. Sempre assim, e ninguém questionava, pois fazia parte da tradição do lugar.
Depois da missa, as mocinhas de mãos dadas com os vestidos rodados e cabelos bem penteados, giravam sentido contrário ao relógio ao redor da Praça da Matriz e os mocinhos elegantes e bem vestidos, giravam sentido relógio. E nesse engenho maluco, muitas vezes os namoros começavam a surgir.
A primavera ia avançando, o vento cada vez menos ia soprando as laterais da matriz e as pessoas iam acumulando saudades e sonhos por aquelas bandas de Lagoa Formosa.
É isso aí!
Acácio Nunes.