SUZY - A MENINA DIFERENTE

SUZY - A MENINA DIFERENTE

Na sala, as outras a rivalizavam. Não entendia porque toda a indiferença que as outras colegas tinham com ela. Sempre muito na sua. Não gostava de muita fofoca. Às vezes parecia aos olhos de quem a visse de relance, como orgulhosa. Após pouco contato, poderia parecer meio arrogante. Mas era um tipo de comportamento próprio da fase. Com 15 anos são muitas as atitudes que uma garota pode tomar para preservar o seu sentimento, até mesmo o seu orgulho próprio. Não dava muita atenção para as outras, era mais ela, simples, mas era original.

Uma coisa ela tinha, decisão firme. Personalidade forte. Mesmo em formação, seu caráter a todos estava patente. Não era de voltar atrás, podia parecer intransigente, mas era seu jeito de ser, verdadeira. Não usava meias palavras, nem frases ambíguas, dizia tudo com todas as letras, talvez por isso causasse repulsa, por sua sinceridade e transparência.

Não se sentia a mais bela estudante, porém sabia que seus traços lhe rendiam olhares atenciosos. Um misto de morena cor de canela, com traços orientais, “seus olhos puxados” a tornava pelo menos neste aspecto, uma particularidade.

Não pense que ela dava bola para qualquer um, ah isso não! Era fechada. Tinha um ar de mistério. Algo que somente o seu olhar distante não revelava. Ninguém ousava invadir esse seu espaço secreto. Mesmo assim vez por outra um espertinho tentava tirar uma onda, que morria antes de chegar na sua praia. Porém havia alguém que lhe chamava a atenção, embora ela não demonstrasse, e quem poderia saber? Morreria com esse segredo? É claro que, talvez somente a sua amiga mais próxima pudesse sondar essa página do seu coração, página essa mais bem guardada que um tesouro escondido.

Ninguém entendia seus motivos. _Sou assim e pronto, goste quem gostar! Dizia com muita objetividade. Tinha alguns professores que ela detestava, porém havia um que não suportava seus trabalhos. Eram diferentes: _Chatos como ele. Dizia para a sua amiga, que era a pessoa em quem confiava, a única na sala.

Todo dia era sempre a mesma coisa naquele colégio, tinha dia que ficava entediada. _Que colégio mais besta! Resmungava consigo. Parecia que tinha momentos que nada lhe agradava. Ela conseguia ferir até mesmo aqueles que lhe eram mais próximos, mesmo aqueles que lhe demonstravam algum afeto. Mas não era de propósito. Quer dizer, ela também não se arrependia fácil por isso. Pedir perdão para ela era um sinal de fraqueza. _Quem eu? Pedir perdão? Jamais! Pensava em alguns momentos. Porém sabia que havia agido errado. Tentava se justificar alegando que tinha sido provocada. Já sabem que sou, portanto não mexam comigo. Eu não me importo com a vida de ninguém, por que querem se importar com a minha? Não tolerava gente intrometida.

Tinha também um professor que tinha mania de querer conhecer o aluno, era cheio de invenções, dizia que fazia o perfil das pessoas. Ele afirmava que conseguia fazer o perfil psicológico de seus alunos, mas para ela isso nunca passou de fantasia. Quero ver ele fazer o meu, imaginava calada. Não gostava do jeito dele. Parecia mesmo que ele conseguia invadir o nosso espaço quando olhava com o seu jeito perscrutador. Apesar de brincalhão, tinha momentos que falava sério. Mas ele jamais saberia o que se passava em sua mente, não era esperto o suficiente para tal. Porém às vezes ela temia quando sentia que ele a observava de alguma forma. Nem que fosse apenas imaginação sua.

Era a menina diferente da sala. Mas era tão comum às outras. Seus medos e frustrações, tão similares aos das garotas de sua idade. É verdade que ela conseguira impor de certa forma, um comportamento que lhe garantira algumas rejeições por parte de algumas meninas na sala. Que se sentiam incomodadas com suas atitudes objetivas, seguras, contudo, nem sempre serenas. Ela, apenas um adolescente tentando construir sua identidade própria, em uma fase que nada ainda está definido, somente as incertezas é que podem apontar que certezas poderemos ter, de quem somos e de quem seremos, quando ainda estamos em construção, como a Suzy.

Ela não imaginava como os outros percebiam suas atitudes. Nem pensava que alguém poderia estar tentando mapear, ou mesmo desvendar algum mistério que por ventura pudesse ter. Talvez fosse apenas uma brincadeira, mas seria mesmo possível que o professor pudesse conhecer algo sobre seu interior? Poderia ser ele tão auspicioso a ponto de “invadir” algo que nunca revelou a ninguém? E se ele um dia conseguisse? Talvez ele fosse “louco” o suficiente para tentar, mas nunca sábio o suficiente para conseguir. Sabia que ela não era um livro aberto. Fazia questão de não deixar nenhuma página acessível, acreditava que poderia manter-se fechada para qualquer curioso que quisesse tentar descobrir algo mais do que o que ela revelasse. Seria misteriosa. Seria sempre um enigma. Até que alguém pudesse desvendar.

Luciano Costa (21/05/2007)

Antonio Luciano da
Enviado por Antonio Luciano da em 22/05/2007
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