MORRER, UM ATO DIGNO!
Há pessoas que em poucas horas nos ensinam mais que uma vida inteira.
E com certeza, nesse instante , todos nós nos lembraremos de alguns desses "professores" que já passaram pela nossa vida. Éramos muito amigos, e certa vez, ele me chamou para que eu pudesse ouvi-lo.
Na verdade queria me comunicar sua decisão.
Não andava muito bem de saúde, e quando lá cheguei, um médico acabava de examiná-lo no seu leito, na sua casa, e dava-lhe algumas recomendações.
Percebi que o médico insistia em algo, mas não pude entender bem no quê.
Assim que o doutor se foi, explicou-me que se preparava para partir.
Decidira que não faria nenhum exame para confirmar a doença grave que já lhe consumia os ossos.
Já fora um homem forte, comandante militar de guerra, e alí nem de longe se sentia derrotado.Apenas convencido da finitude de tudo!
Mieloma, era a suspeita do doutor.
Ele, no auge da sabedoria de seus quase noventa anos, depois de muita insistência ,convencera seu médico de que não se submeteria a exames invasivos, complicados, desse que se entra em tubo, que horror!
-Para quê? me perguntou. Sei que prolongaria meu sofrimento.
Veja minha querida amiga, sinto que estou partindo.E parto satisfeito.
Fui feliz, estudei, trabalhei, tive a mulher que amei, conheci o mundo, dei empregos, sorri , chorei, fui ao cinema, fui ao teatro...fui ao parque...
Agora só peço ao doutor que apenas alivie minha dor física, porque na alma carrego alegria.
Sei que cumpri meu papel.E sei do meu limite.Entendo e aceito a lei da Natureza.
Fiquei perplexa com sua lucidez e com sua sabedoria.
Ele que estava acordado, mas sonolento pela medicação, devagarzinho parecia adormecer.
Percebi que levemente apertou minha mão , puxou dois ou tres suspiros profundos e embarcou para sua viagem.
E eu fiquei alí, rodando o filme da minha vida, e pedindo a Deus a mesma compreensão...ao chegar a minha hora...