MENINAS MÁS (parte 4)

Gabriela se voltou imediatamente para trás. Era Sarah. Vanusa estava ao seu lado, ambas a alguns metros de distância de nós.

- Olá, meninas!

Minha amiga se tornou imensamente ridícula de um segundo para o outro. Como da outra vez, me deixou plantada e foi correndo em direção a elas.

- Gabriela, vamos ao shopping?

Foi Vanusa quem fez o convite. Eu quase me intrometi e disse que não, Gabi já tinha combinado de me ensinar o conteúdo de matemática para a prova de amanhã. Porém, esperei calmamente (se é que isto era possível) que Gabi respondesse por conta própria.

- Ao shopping?

Ela estava de costas, mas tive certeza que os olhos brilharam com aquele convite sensacional.

- Sim! Você tem algo melhor para fazer? Nós vamos almoçar e depois treinar. Lembra que agora você faz parte do time?

Time. Não era apenas o “time” de vôlei. Havia uma conotação maior para aquela frase e que Gabi perfeitamente entendeu.

- Claro que quero! Puxa, eu adoraria!

Deslumbramento total. Era assim que Gabriela se sentia quando saiu caminhando ao lado delas na direção oposta. Eu fiquei parada na calçada por um minuto inteiro, tentando absorver aquela cena. Senti-me uma idiota. Muito idiota. Parecia que a escola inteira havia visto minha vergonha de ter sido preterida na frente de todo mundo. Na verdade não sei se alguém deu bola para mim. Nunca fui popular para alguém reparar na minha figura. Talvez fosse por isto que Gabi estivesse se bandeando para o outro lado. Porque comigo tudo era muito sem graça.

Eu fiquei tão triste que não tive sequer vontade de berrar chamando Gabi de volta e cobrar o compromisso que ela tinha firmado comigo. Simplesmente dei as costas e saí de fininho. Já tinha perdido completamente a fome quando cheguei em casa e a macarronada e a sobremesa ficaram intactas. Minha mãe com certeza ficaria muito decepcionada, porém era impossível comer sentindo uma bola na barriga. Chorei desta vez sentada no sofá, socando as almofadas e batendo os pés no chão. Eu podia esperar qualquer coisa de Vanusa e Sarah, nunca aquela traição de Gabi.

Depois de uma hora chorando e com os músculos da face doloridos, resolvi tomar uma atitude e estudar matemática sozinha. Aliás, eu não tinha alternativa. Não sabia direito o conteúdo e não podia ficar aos prantos a tarde toda. Peguei meus cadernos, livros e internet e mergulhei a fundo nos conteúdos. Alguma coisa tinha que dar certo.

*

Quando minha mãe chegou em casa me encontrou de banho tomado e com a matéria na ponta da língua. Ela estava prestes a preparar o jantar quando se deparou com o almoço intacto. A mousse inteirinha, algo inédito. Eu estava na sala, com o notebook no colo, quando ela perguntou abismada:

- Vocês não almoçaram aqui hoje?

Não tive coragem de olhar para minha mãe. Fazendo de conta que estava super concentrada na internet respondi:

- A Gabi não pôde vir, mãe.

- E você não almoçou?

- Comi um salgado na escola que me embrulhou o estômago – menti. – Mas agora estou melhor.

Na verdade minha barriga roncava. Eram sete horas da noite e percebi que não comia nada desde as sete horas da manhã.

- Gabi não pôde vir? E como você estudou?

- Dei um jeito, mãe. E acabei aprendendo a matéria sozinha.

Minha mãe foi fazer suas coisas e me deixou sozinha. Fui futricar no Face de Gabi e levei um choque. Na página de Gabi havia mais de dez fotos suas com Vanusa e Sarah, tanto no shopping como no treino. Todas felizes. O pior de tudo foi ler o que Gabi postou: melhores amigas.

Meu Deus, que nojo. Era inacreditável. Até três dias atrás Gabi era minha eterna amiga. Nada poderia nos separar. Eu nunca pensei que houvesse algo com força suficiente para isto. Mas quando olhava para Sarah e Vanusa naquelas fotos senti que era praticamente impossível lutar contra aquelas duas.

Elas já tinham roubado minha melhor amiga.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 19/09/2014
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