Um pedinte ilustre

Numa festa de aniversário numa casa localizada numa rua central da cidade, com vizinhos de um lado e do outro, equidistantes de duas esquinas. Era aproximadamente 19 horas do início de uma noite chuvosa.

Alguém envolto numa capa chega ao portão da casa de bate palmas chamando a atenção na porta. Ninguém quis atender, para não interromper os festejos.

Uma pessoa convidada que estava na festa foi até o jardim e perguntou:

- Boa noite! O que você quer?

Respondeu com uma voz grave e mansa:

- Estou ouvindo barulho de festa de aniversário, e eu quero apenas um pouco de comida, pois estou com fome.

- Um minuto, por favor, que eu vou buscar alguma coisa.

Entrou e comentou com algumas pessoas, mas o desprezo foi quase unânime. Desde “não se importe” até “deixa pra lá” e “esqueça, pois deve ser os mesmos drogados que vem pedir comida e jogam fora”.

Preparado o prato com petiscos, foi juntado um grande copo de suco e aquele convidado levou até o portão. Estendeu as mãos e entregou, mas não conseguia ver o rosto, se era jovem ou idoso.

Ao receber os alimentos pela grade, o homem disse alguma coisa tipo:

- Quem prepara aos corvos o seu alimento, quando os seus filhotes gritam a Deus e andam vagueando, por não terem o que comer?

Claro que o convidado não entendeu aquelas palavras. Entrou e comentou com uns amigos, parando a conversa de um grupo, que não acreditando, saiu à rua para ver, mas não foi visto ninguém, nem de um lado nem do outro. Esquisito pensar que alguém teria chegado à esquina, em tão pouco tempo. Teria tido alguém mesmo? Alguém deve ter pensado.

O convidado que serviu o alimento sentiu um arrepio na alma, ao pensar o que teria sido aquele encontro.

Somente no dia seguinte encontrou a origem daquelas palavras na própria Bíblia, acrescentando ainda com a seguinte frase:

- Porque o ouvido prova as palavras, como o paladar experimenta a comida. (Jó 34, 3)