Comme ils disent - ou Doente pra moça
Era a expressão singela e eufemística que tia Justiniana usava pra definir aqueles rapazes que não se casavam. E nem queriam saber de moça. Não a empregava assim abertamente. Chegava a virar o rosto prum lado, semicobrir a boca para a proferir. Quase que com reverência.
E o exemplo mais flagrante dessa definição era o moço da padaria,
o Segismundo. Todos o conheciam pela fineza de suas maneiras, as
sobrancelhas negras e bem delineadas e os cabelos lustrosos e ondulados de dar inveja a um iniciante Elvis.
E pouco se o via de fora daquele balcão em que ele passava os dias distribuindo pão e sorrisos. Mais pros meninos. Ou dos meninos. Mas quem ficavam encantadas com ele eram as senhoras solteironas, já de uma certa idade, assim como Justiniana, ou sua irmã Alenita - mais sociável e mais jeitosa - que contava de suas prosas com o moço da padaria. Que lhe falava com certo orgulho e sem pudor de suas habilidades domésticas: o tricô, o crochet.
Quando a padaria fechou, foi a vez do mundo se abrir para Segismundo: abriu seu próprio negócio, um salão de beleza. Já não era mais o encantador e guapo moço que servia cafezinhos daquela máquina cromada "Maracanã", nas xicrinhas branquinhas e que se comprazia em embrulhar baguetes todos os tamanhos para os fregueses. Havia mudado: os cabelos deram lugar a uma cabeleira, os dentes recauchutados mas ele se sentia em seu elemento, pintando e fazendo cabeças. E pronto para atender a sessão noturna, enquanto sua zelosa maman cochilava em frente à tv - apesar de toda a faceirice da Yoná.