Escarlate

- Não acredito que está mesmo fazendo uma estupidez dessas! – Esbravejei puxando-a pelo braço. Queria que Frederika olhasse diretamente para mim, queria que ela risse da minha cara e garantisse que aquela atitude estúpida de ir embora fosse apenas uma de suas brincadeiras. Ela não brincava mais com tanta frequência. Minha esposa parecia cada dia mais amarga desde que eu voltara da minha última missão do Heer no Afeganistão. – Minna!

- Estupidez eu fiz quando decidi que conseguiria suportar toda sua grosseria e gelidez, Gustav. – Rebateu felina soltando-se de meu aperto. Era aquilo que chamavam de Crise dos Sete Anos? Era inegável o desgaste em nosso casamento, todos os casamentos tinham seu coeficiente de desgaste, entretanto nunca achei que isso nos deixaria como dois inimigos em um campo de batalha. Naquele momento não parecíamos mais um casal. Aos poucos nos tornávamos adversários. Em que parte do caminho isso acontecera? Como eu, um grande estrategista do exército, não percebi aquele fato inegável? – Não importa mais o que diga. O que planeje. Lá fora seus planos lógicos podem funcionar, mas aqui dentro, você não tem o controle de tudo. Não sou um de seus bonequinhos de estratégia em cima de um mapa estendido numa mesa, não pode me manipular ao seu bel prazer. – Continuou calçando as luvas, posteriormente passando o cachecol branco ao redor do pescoço longo.

- Está agindo como a mais idiota das mulheres, Minna, não entendo por que de uma atitude tão radical como esta. – Reclamei furioso. Não acreditava que ela pudera comparar nosso relacionamento com meu trabalho, insinuar que eu a manipulava ou tentava fazer tal coisa. Nunca fui uma pessoa fácil, sempre fui tipicamente gélido, imparcial, sério e até um pouco ríspido, crescera em um colégio militar afinal. Frederika era o contrário, calorosa, meiga, amorosa e atenciosa, conseguira meus melhores sorrisos e até gargalhadas. Meus melhores momentos. E agora me proporcionava o pior deles.

- Não. Me. Chame. Mais. De. Minna. – Silabou ácida quase apontando o dedo em meu rosto. Dei um sorriso amargo ao perceber que se essa discussão fosse com outra pessoa a teria esbofeteado. – Éramos pessoas diferentes quando me apelidou assim. E tira esse sorrisinho da cara, Gustav!

- E quer que eu faça o que Frederika? Você é absurda. Essa babaquice toda é surreal, não acha? – Rebati gélido. Ela me fuzilou com o olhar, rumou para a porta quase me empurrando pelo caminho. Bufei raivoso. Ela sabia me tirar à paciência como ninguém. Fritzi olhou brevemente pela porta de vidro que dava acesso a varanda, garoava. Era comum nessa época do ano. Em Junho a temperatura começava a subir em Leipzig e a precipitação vinha de brinde. Agarrou firmemente o guarda-chuva vermelho que ficava junto do meu na entrada. Ela o tinha desde que eu a conhecera.

- Eu sou absurda? – Riu amarga. Escancarou a porta e virou-se para mim. – Diga o que quiser, Generalmajor Schurtz, agora eu vou sair antes que me arrependa mais de tê-lo conhecido.

- Eu quem me arrependendo de ter casado com uma estúpida! Se manda logo, Frederika, antes que eu me enfureça mais e te dê um soco tão forte que quebre todos os seus dentes! – Vociferei gesticulando para a porta aberta, meu rosto queimava de raiva e tinha certeza que sua coloração era carmim puro. Ela pareceu não se importar com a ameaça, contudo não demorou em virar as costas e seguir porta a fora.

Joguei-me no sofá e passei as mãos por meu rosto, o calor nele era latente. Estava tão furioso que poderia explodir. Sou muito jovem para enfartar de raiva, pensei levantando e rumando para o banheiro. Lavei o rosto e molhei os cabelos. Minha dor de cabeça estava absurda, primeiro pela ressaca, depois pela discussão. Forcei minha mente para lembrar como a manhã virara um inferno.

XXX

Naquela manhã eu acordara com uma das maiores ressacas da minha vida. Lembrava vagamente de depois de uma longa discussão sobre estratégias novas para se usar na Guerra do Afeganistão, eu e um grupo seleto de colegas rumamos para um happy hour, uma das coisas que mais apreciava era sair para beber com os amigos. Estávamos na Copa do Mundo afinal, não fisicamente, como fora em 2006, mas ainda sim poderíamos curtir um bom jogo da nossa seleção. A Alemanha ganhara de uma forma surpreende e nossa comemoração fez jus a isso se estendendo por horas a fio. Uma noite indiscutivelmente masculina, regada a futebol e álcool.

Tomei um banho demorado para tentar amenizar a dor de cabeça insuportável. Aplacara em parte, sabia que minha ressaca só era genuinamente curada depois de uma xícara de café bem forte e aspirinas. Se bem conhecia Minna ela já providenciara os dois. Depois de vestir o uniforme caminhei despreocupadamente até a cozinha. Minha esposa falava ao telefone, ao me avistar, tratou de despedir-se brevemente.

- Sem problemas, querida. Até mais. – Garantiu ela desligando. Sorriu de forma afetada. Franzi o cenho confuso, mas nada comentei. Frederika caminhou até mim e circulou meu pescoço com os braços para em seguida beijar-me, retribuí afagando seus cabelos negros. Desconfiava de seu repentino bom humor, palpitava que Fritzi começaria a Terceira Guerra Mundial por eu ter voltado tarde noite passada. Separei-me dela e sentei junto ao balcão. Não demorou muito para que a mulher me passasse meu tão sonhado remédio. Beberiquei meu café observando seus movimentos com cautela. – Gus? Tudo bem? Está me olhando de um jeito. – Minna riu melodiosamente. Assenti.

- Quem era ao telefone? – Desviei o assunto, não queria responder diretamente e ser acusado novamente de utilizá-la como objeto de estudo. Tomou um gole demorado de seu suco, parecia escolher as palavras, umedeci os lábios esperando sua resposta, estava ainda mais desconfiado. Terminei o café e me levantei desamassando superficialmente a farda militar. Não poderia demorar, se não estava atrasado, eu já beirava a tal, contudo me permitiria esperar pelas palavras de Frederika. Ela deu de ombros mostrando que não era nada extraordinário.

- Georgia. – Respondeu levantando-se. Espreguiçou-se levemente. Se nossa empregada faltasse mais um dia eu a demitiria, tudo tem um limite, era irresponsabilidade demais para uma doméstica só. Minna riu brevemente da minha expressão irritadiça, pulou em minhas costas prendendo-se ao meu pescoço, segurei-lhe as pernas para que ela não caísse. – Não se preocupe, Gus. Ela virá hoje, só está um pouco atrasada. – Bufei revirando os olhos. – Devia está de bom humor, sua noite foi bem animada, não? – Acusou. Sabia que a paz não reinaria por muito tempo. Caminhei para o quarto novamente com Frederika ainda pendurada em mim. Já iria desconversar quando ela o fez. – Pode me dar carona? Fiquei de ajudar na Karl Marx de medicina e posteriormente no Instituto de Imunologia hoje pela manhã e depois vou dar minhas aulas na Karl Marx da Liebigstraße . Pode me encontrar pra almoçar no Subway da Neumarkt ou no Panorama. – Sugeriu. Franzi o nariz para proposta em quanto ela descia das minhas costas.

- Vamos ao Auerbachs Keller, pelos menos, a comida é melhor e não é tão distante da Universidade. – Contrapus e ela assentiu revirando os olhos. – À propósito, compre seu próprio carro, não sou seu motorista. – Alertei por fim pegando as chaves. Não gostava de Minna usando o transporte público, no entanto não podia me atrasar toda manhã, o quartel era fora dos perímetros da cidade.

- Imbecil. – Xingou agarrando a bolsa e alguns livros que jaziam em sua escrivaninha. Ignorei, ela não se irritara de verdade, não tinha por que eu replicar. – Não vai dizer nada? Não tem um incrível argumento irrefutável essa manhã? – Indagou em uma risada sem humor. Dei de ombros enquanto colocava o quepe.

- Não tenho uma razão concreta para discutir sobre isso. Se realmente está a fim de discutir sobre algo, que tal me falar o que está escondendo de mim. – Sugeri sorrindo de forma sarcástica para ela. – Sei que está e não adianta garantir que não.

- Nada demais. – Sua voz falhou fatalmente. Arqueei a sobrancelha para ela. Eu sabia que ela estava mentindo e Frederika tinha consciência disso. Pigarreou e recomeçou. – Bem, Georgia tem uma filha pequena, como não tem com quem deixá-la vem faltando conosco. Ela me ligou para saber se pode trazer a garota. Todos sabemos sua tolerância com crianças e ela estava receosa por isso. Afirmei que não era problema.

- Então, sem me consultar, resolve permitir que a Georgia traga a pirralha dela pra minha casa? – Indaguei retoricamente rindo sem humor. Frederika estreitou os olhos. Não era o maior fã de pestinhas, em geral as crianças por si só já não gostavam de mim e eu não tenho o menor saco de fazê-las mudar de opinião.

- E você queria que eu fizesse o quê? Eu não tenho tempo pra ser dona de casa, você muito menos, ou vai dizer que não? Georgia é uma boa pessoa, precisa do emprego. Por Deus, Gustav! É só uma criança, você mal vai cruzar com ela. – Argumentou aumentando um pouco o tom de voz. Ela, em parte, tinha mesmo razão. Georgia era nossa empregada desde que nos casamos e sempre fora de confiança, dificilmente conseguiríamos outra doméstica assim.

- É só uma criança. – Repeti debochando de sua afirmação. – Não tem mais jeito mesmo, que seja. Gee pode trazer a pestinha dela contanto que a piveta não quebre nada, é inaceitável que ao invés de esta casa ser organizada, ela se torne um caos. – Suspirei conformado, talvez não fosse tão ruim assim afinal. – Agora podemos ir? Ou ainda pretende que eu me atrase mais?

- Não cansa de ser tão doce, Gustav? – Ironizou indócil. Não entendi ao certo seu repentino mau humor. Não acreditava que fosse por meu comentário, Frederika era habituada com meu gênio difícil e irritabilidade. Caminhou calada a passos rápidos comigo em seu encalço.

- Minna. – Chamei tocando-lhe de leve o ombro. Um indicador para que Fritzi parasse. Ela pausou o caminhar, mas não se virou para me encarar. Permaneceu parada e silenciosa, como uma estátua decorando nossa sala de estar. A mais bela delas. – Qual é o seu problema? Sério. O que está havendo com você?

- Comigo? – Ela riu amarga. – Comigo? – Repetiu dessa vez mais sarcástica. – Conosco, você quer dizer. Conosco e com isso que chamamos de casamento. Ou o gênio não percebeu que estamos indo de mal a pior. – Frisou ainda mais amarga. Não consegui esconder a surpresa em minha face. Não era bobo o bastante para fantasiar que meu casamento era um mar de rosas todos os dias, somos um casal, somos humanos. Desavenças são normais. Discussões são normais. Tínhamos cumplicidade, atração, amor suficiente para nos resolvermos com o tempo. Sempre fora assim. – Não é um sonho afinal.

- E esperava por um? Desejo entender sua mania de utopia. Isso é a realidade, querida, somos reais, passíveis a erros, muitos deles. – Retruquei irônico. Uma forma de mascarar o quão contrariado eu estava. Nossa discussão não era sobre uma amante inexistente que ela supunha que eu tinha, ou vice-versa, não era sobre meus happy hour ou sobre a quantidade de tempo que ela gastava sendo voluntária nos hospitais próximos a universidade. Era sobre nós. Sobre nosso falho casamento e aquela era a primeira discussão a respeito de tal. – Sinceramente, vai mesmo levar a discussão pra esse lado? Vai criar um conflito sem necessidade por conta de Georgia e sua pirralha? – Tentei findar o assunto a minha maneira. Com lógica.

- Não é sobre Georgia ou a filha. É sobre você e eu. É sobre nós! – Exclamou virando-se para mim. Seus olhos azuis estavam marejados e expressavam uma mágoa profunda, mas contida. Foi então que percebi: estávamos mais perto do fim do que nunca antes. Umedeci os lábios tentando raciocinar uma boa resposta. Algo que acabasse com aquela confusão sem afundar meu casamento. Mais ainda. – Você é a pessoa mais egoísta e egocentrista que conheço. Tudo é sobre você e suas vontades. Nosso casamento é embasado nisso. No que você quer.

- O que eu quero? Está falando sério? Foi a coisa mais idiota que saiu de seus lábios até hoje. – Rebati irritado. Eu? Egoísta? Agora, se ela não vivia um conto de fadas fantasiado a culpa era minha? – Não venha me acusar de nada, Frederika. Se está assim tão insatisfeita deveria tentar resolver tudo em conjunto, não jogar a culpa em minhas costas.

- Ah claro! Para você usar mais de sua psicologia em mim? Não, obrigada. Pensei que um ser de inteligência superior como você, Generalmajor, perceberia que estou infeliz com tudo isso. – Riu sarcástica. Parei de escutar seu escândalo. Apenas observava a morena brigando e reclamando. Como uma criança birrenta. Era tão difícil assim conversamos como adultos para variar? Bufei audivelmente e revirei os olhos, um claro sinal que estava fadado daquilo. – Nem sequer está se dando o trabalho de me ouvir? – Indagou amarga e irônica. – Quer saber? Vai se ferrar Gustav! Estou cansada disso. Se quer uma boneca de porcelana que você manda e desmanda procure outra mulher, não sirvo pra esse papel patético. – Anunciou.

- O que quer dizer? – Murmurei surpreso com olhos levemente arregalados. Não conseguia assimilar o que minha mulher acabara de me dizer. Minna não podia estar falando sério.

- Que acabou. Eu vou embora daqui. Depois peço pra Sofie vir pegar minhas coisas. – Afirmou convicta.

XXX

O som estridente do telefone me despertou do devaneio. Atendi-o sem vontade. Precisava pensar em algo para resolver meu rompimento com Minna e precisava pra ontem. Meu chefe estava do outro lado da linha. Furioso por meu atraso. Fingi uma doença e pedi dispensa. Klaus ficara desconfiado, entretanto aceitou. Talvez achasse que fosse ressaca. Não liguei, trabalhava mais que qualquer um no quartel mesmo.

Levantei tateando meus bolsos a procura da minha carteira de cigarros, precisava de uma tragada urgente para reorganizar os pensamentos. Caminhei vagarosamente até a varanda com cigarro entre os lábios. Quando a nicotina preencheu meus pulmões pude sentir o bom senso voltando a mim. Observei ao longe Frederika tão pequena como um soldadinho de plástico do outro lado da rua. Só sabia que se tratava dela pelo chamativo guarda-chuva vermelho. Um sorriso torto brotou em meus lábios, se não fosse pelo acessório nunca teria percebido a morena na rua e consequentemente, nunca teríamos nos conhecido.

XXX

Oito anos antes...

Estava a alguns metros do Red Bull Arena , eu e um grupo de amigos saímos decepcionados de França x Coréia do Sul. Eu havia apostado que a França ganharia de 3 x 0, mas ela acabou no empate de 1 x 1. Íamos em direção ao De Fraco, um bar bem frequentado, quando em meio a bizarrice comum em uma Copa do Mundo surge uma moça com um guarda-chuva vermelho. O que chamava a atenção nela era, a priori, o guarda-chuva escandaloso e escarlate. Observei-a atentamente enquanto ela passava por mim entrando na Friedrich-Ebert-Straße, ela também me encarava de uma forma contida. A garota era linda, uma das mais bonitas com quem pude topar um dia. Não conseguia parar de olhá-la. Vi-a enrubescer quando não desviei o olhar. A moça de cabelos negros e olhos azuis penetrantes mordeu o lábio inferior para conter um sorriso. Arqueei levemente a sobrancelha seguindo pela Jahnallee.Olhei sobre o ombro com a esperança de ainda vê-la sumir pela rua. Ela também olhava para trás quando foi interrompida por um violento empurrão recebido de um homem com o dobro de seu tamanho.

- Vão na frente, logo acompanho vocês. – Avisei voltando para ajudar a desconhecida do guarda-chuva escarlate. Meus amigos não pouparam comentários maliciosos, estes foram devidamente ignorados. Cheguei rapidamente aonde o casal se encontrava e, antes que o negro de olhos verdes a agredisse, me pronunciei. – Sou o tenente-coronel Schurtz. Algum problema aqui?

- Acredito que não. Tom já estava indo embora, não é Tom? – A moça prontamente respondeu com uma pitada de ironia. O homem assentiu contrariado, contudo a intimidação não o deixou replicar. – Obrigada por isso. Eu e meu padrasto não nos damos muito bem. Me chamo Frederika Hahnmann Brecht. – Anunciou estendendo a mão para mim.

- Mario Gustav Sommerfeld Schurtz.Como assim padrasto? – Indaguei surpreso, o homem não aparentava ser mais velho que eu, talvez tivesse por volta dos 24 anos.

- Minha mãe gosta de garotões. – Deu de ombros naturalizando a afirmação. Ri brevemente da ação. – Você é mesmo tenente-coronel? – Quis saber animada. Assenti e ela me olhou maravilhada. De fato eu era novo para a patente, tinha 27. – Bem, tenho de ir. Estou atrasada.

- Entendo. Posso te dar uma carona? Pra onde vai? – Perguntei, antes de Frederika responder arrastei em direção ao De Franco, onde estava meu carro.

- Pegar carona com um estranho? Melhor não. – Sussurrou em dúvida. Revirei os olhos, no entanto ela tinha razão. Não era lógico. – Universidade de Leipzig. Eu não quis ofender, okay? – Completou.

- Não tem problema. Posso te acompanhar até o bonde pelo menos? – Barganhei sorrindo. Ela concordou rapidamente me arrastando avenida a baixo. – Faz que curso na Karl Marx?

- Na verdade eu dou aulas. Sou professora de Ciências Políticas e Sociais. E você, fez faculdade? – Respondeu. Olhei-a surpreso, ser professora universitária tão nova era uma coisa notável.

- Fiz Psicologia e Logística na Karl Marx. Qual sua idade? Parece ser jovem e já ensina em uma das melhores universidades do mundo.

- É excitante não? – Replicou animada. – Tenho 23, eu me formei na UK Berlim . Primeiro lugar. Então meus professores me indicaram para o cargo aqui.

- Frederika, está livre sábado? – Indaguei. Ela assentiu rindo divertida. – Não está mais. Às sete no Keller, pode ser? Ou podemos ir primeiro a opera. – Completei. Não era dado a encontros, mas Frederika parecia interessante ao ponto de chamá-la para sair. Minha satisfação aumentou ao ver sua animação em ir a opera.

- Me liga. – Pediu estendendo-me um cartão de visitas antes de partir.

XXX

Pude ver Frederika estancar no meio da calçada. Deixou o guarda-chuva escarlate escapar de suas mãos e se abraçou. Aquilo fora o estopim das minhas ações seguintes. Corri porta a fora, saindo do prédio o mais rápido que pude. Dane-se a lógica. A gelidez. A disciplina. Não poderia perder alguém como Minna por uma besteira assim. Tinha que reverter esse quadro urgentemente.

- Minna! – Chamei enquanto me aproximava correndo. A morena não se mexeu. Continuou parada, abraçava-se fortemente. Tremia. Percebi então seu choro contido. Abracei-a tentando confortá-la. – Minna, me perdoe. Eu sou muito racional. Rude. Gélido. Imbecil. Mas eu a amo. Juro por Deus. Sou péssimo em demonstrar isso, eu sei. Não percebi que isso te atingia dessa forma. Provavelmente eu nunca vá mudar, entretanto farei de tudo pra melhorar. Por você. Por nós. – Quase supliquei. Eu sabia que a amava, mas ao me sujeitar daquela forma me mostrou o quanto estava a mercê de Frederika.

- Estou grávida Gustav. Pode me amar assim? – Rebateu soltando-se de meu abraço. Meneie a cabeça surpreso, me criticando mentalmente por tudo o que dissera mais cedo.

- Frederika.

- Responda Gustav. Pode me amar assim? – Indagou novamente. Voltou a chorar quando nada respondi. Não tinha o que responder. Era óbvio que a amava. Tentava achar uma forma de explicar-lhe que ela e nosso filho eram diferentes de Georgia e a pirralha dela ou de qualquer outra criança.

- Ainda tem duvidas? Minna, deveria ter me dito antes. Minha opinião sobre o filho dos outros é distinta da minha opinião sobre nós e uma criança nossa. Um filho é uma responsabilidade sem tamanho. Vamos fazer isso dar certo juntos. Talvez seja difícil, talvez não, mas não quer dizer que eu não vá tentar ou obrigá-la a desistir de ser mãe. Vamos trabalhar em conjunto, okay? – Discursei da melhor forma que pude. Frederika sorriu assentindo. Abraçou-me forte. – Eu te amo, Frederika.

- Eu também de amo Gustav. – Afirmou. Arrastei em direção a nosso apartamento. – Espera, o escarlate. – Murmurou apontando para o acessório que o vento levara pra longe.

- Deixa-o.

- Mas Gus, sempre diz que ele é o símbolo do nosso relacionamento.

- Este é o verdadeiro símbolo do nosso relacionamento. – Discordei lhe acarinhado a barriga sobre o casaco. – Ligue pra universidade, dê sua desculpa. No quartel já dei a minha. Hoje faremos só coisas clichês que casais grávidos fazem. – Sugeri abraçando-a e caminhando para dentro do condomínio. Minna assentiu empolgada.

- Obrigada. – Beijou-me calorosa como sempre fora. Correspondi mais descongelado do que nunca.

Heer: Exército alemão.

Fritzi: Apelido comum para Frederika.

Generalmajor: Patente do exército alemão. No exército brasileiro seria uma espécie de General de Brigada.

Karl Marx: Universidade Karl Marx é uma das alcunhas da Universidade de Leipzig.

Liebigstraße: É a avenida onde se situa o prédio principal da Universidade de Leipzig.

Red Bull Arena: Como também é conhecido o Zentralstadion Leipzig

UK Berlim: Universidade Livre de Berlim.

Lanna Brooks
Enviado por Lanna Brooks em 11/09/2014
Reeditado em 11/09/2014
Código do texto: T4958667
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