VELHA CANÇÃO 
 
Parece confuso, deixa escapar um suspiro pesado após a olhadela singular em direção ao céu enevoado, o semblante revela todo desapontamento pela ausência da lua; estica os braços, alongando os músculos além dos limites da janela, faz menção a um bocejo sutil, recosta no batente, fita algo imperceptível aos meus olhos na rua vazia da noite cinzenta.  
Toca a garganta, franzindo a testa, parece sufocado... 
Um desconforto talvez, fico a imaginar. 
Uma das mãos mergulha entre os fios grossos e desgrenhados da vasta e negra cabeleira, repuxa na altura da nuca, fecha os olhos compenetrado. 
Cerra os punhos, balbucia algo ininteligível, enche de ar os pulmões estufando o peito, balança de leve o corpo, fica inquieto, liberta a pele queimada de sol da regata preta com estampa da banda preferida, o corpanzil desdenha do vento frio.  
Puxa a banqueta de plástico, ajeita com os pés, esnoba, desiste dela, faz careta, morde os lábios, soca o nada! Dá um passo pra trás, dois, três, retorna em seguida, tateia os bolsos da bermuda xadrez até encontrar o celular, determinado, disca uns números, desliga antes mesmo de completar a chamada. 
Senta no parapeito com ares de derrotismo... Os polegares pressionam as pálpebras, tenta engolir a emoção, respira fundo, acolhe o violão, dedilha, libera um sorriso aliviado ao libertar dos lábios a velha canção. 
 
Christinny Olivier 




 
Christinny Olivier
Enviado por Christinny Olivier em 10/09/2014
Código do texto: T4957198
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.