VELHA CANÇÃO
Parece confuso, deixa escapar um suspiro pesado após a olhadela singular em direção ao céu enevoado, o semblante revela todo desapontamento pela ausência da lua; estica os braços, alongando os músculos além dos limites da janela, faz menção a um bocejo sutil, recosta no batente, fita algo imperceptível aos meus olhos na rua vazia da noite cinzenta.
Toca a garganta, franzindo a testa, parece sufocado...
Um desconforto talvez, fico a imaginar.
Uma das mãos mergulha entre os fios grossos e desgrenhados da vasta e negra cabeleira, repuxa na altura da nuca, fecha os olhos compenetrado.
Cerra os punhos, balbucia algo ininteligível, enche de ar os pulmões estufando o peito, balança de leve o corpo, fica inquieto, liberta a pele queimada de sol da regata preta com estampa da banda preferida, o corpanzil desdenha do vento frio.
Puxa a banqueta de plástico, ajeita com os pés, esnoba, desiste dela, faz careta, morde os lábios, soca o nada! Dá um passo pra trás, dois, três, retorna em seguida, tateia os bolsos da bermuda xadrez até encontrar o celular, determinado, disca uns números, desliga antes mesmo de completar a chamada.
Senta no parapeito com ares de derrotismo... Os polegares pressionam as pálpebras, tenta engolir a emoção, respira fundo, acolhe o violão, dedilha, libera um sorriso aliviado ao libertar dos lábios a velha canção.
Christinny Olivier