ERA APENAS UM GATO

Foi a vizinha do lado quem nos deu. Na época ela tinha uma gata que havia dado cria a seis gatinhos. Ele chegou na mesma época em que eu saí de casa. E com a minha ausência se tornou novo membro da família.. Ele dormia e acordava junto com meus pais. E como uma criança pequena estava sempre ao lado de minha mãe, enquanto eu tentava arrumar de vez a minha vida. E foi naquele ano tão difícil de tantas mudanças que ele se fez presente, preenchendo aquele espaço, aquela casa. Ainda que muito travesso, era muito manso, a ponto de incomodar as visitas com suas apresentações por entre as pernas e cheirando sapatos. Minha vida mudou, eu mudei. Mudei de emprego. Casei, tive meu filho. E ele sempre estava lá quando ia visitar meus pais. De alguma forma me reconhecia e quando eu chegava ia me esperar na porta antes mesmo d’ eu abri-la. Não falava, não discutia, mas estava sempre presente no sofá enquanto minha mãe fazia crochê. Era bicho, era parte da família. E foi um dia, em mais uma de tantas noites antes de dormir que ele saiu. Como de costume encontrou a janela entreaberta e foi explorar a garagem. Mas aconteceu alguma coisa, e no outro dia, antes do sol nascer, minha mãe encontrou seu corpo gelado na calçada com o pescoço virado. Nunca vou esquecer que animais também tem personalidade e ele tinha uma própria, única. Nunca vou esquecer que eu tenho um vizinho que viu meu gato vivo pela última vez.

Não sei nem explicar o que eu sinto, se o que eu sinto não dá pra explicar com palavras.

Mariana Montejani
Enviado por Mariana Montejani em 05/09/2014
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