A Fera
Os dedos do homem deslizaram ferozmente pelo pescoço da moça, dissimulava seus desejos enquanto fitava o vazio ao longe.
Para ele, faltava a inspiração predadora, que sem maior esforço e agudez, deixava sua mão solta, transitando e buscando furar a barreira erguida pela jovem, mas sem saber exatamente como.
Ele pensou simplesmente em desistir indo embora, porém seu interesse em consumar de uma vez por todas aquela situação o coagia a insistir, mesmo que com investidas desajeitadas e tantas vezes fracassadas.
Um emaranhado de frases venenosamente inventadas lhe passavam pela cabeça, mas a culpa que lhe acometia o impedia de dizê-las.
Praguejando em silêncio, desarmou-se sem mais saber o que fazer, as mãos caíram para a fina cintura daquela linda criatura intocada, repousou a cabeça nos ombros dela, como se emitisse uma súplica inaudível e carinhosa.
A moça apenas parou de afastá-lo e acobertou-o com um gesto duvidoso de compaixão. Ela o abraçou calmamente e o seu sorriso despedaçado se fez em dentes brancos e magníficos. Havia vencido. A fera estava completamente domada.