A Cara da Riqueza
Certo dia, numa segunda-feira primaveril do mês de setembro de 2013, eu aguardava por alguém em uma lanchonete existente nos pilotis de um prédio de lojas e escritórios, na região hospitalar de Belo Horizonte – MG.
Muita gente por ali fazendo lanche, aproveitando para colocar a conversa em dia, enquanto eu aproveitava para adiantar a leitura de um livro.
Num dado momento chegou um grupo de pessoas bastante extrovertidas, um homem e quatro mulheres, com os ânimos irrequietos de um final de semana agitado.
Como falavam muito e num tom elevado parei minha leitura e passei a prestar atenção no grupinho.Aos poucos fui descobrindo o nome de cada um: Louis, Margô, Denis, Stephanie e Maria das Graças (Magá).
Louis, muito extravagante falou: “Gentein, gentein, estou ansioso para contar para vocês sobre a festa glamorosa que fui no sábado. Estava tudo MA RA VI LHO SO. E a noiva então?! Que corpitio, que modelito, AR RA SOU!”
A esta altura as suas colegas já haviam colocado sobre a mesa os seus pacotes de biscoito waffer e trackinas e aguardavam ansiosas pelas novidades.
Enquanto esvaziava sua sacolinha de supermercado Louis disse: “olha aqui suas pobretonas, vocês podem guardar esses seus biscoitinhos tipo gaufrette, tarte sablée e petit gâteu, pourquoi avec moi et finesse pur! “Avoir à magnifique nouveauté de samedi pour toir. Je porter le cortège: cracker e gâteu au beurre, pour accompagner a surpris. Tã, nã, nã, naaaaaaaaã”.
“Que isso Louis”, perguntou espantada a Magá, ao ver aquela pasta escura em um recipiente vítreo.
“Está-se vendo que é pobreza mesmo QUE RI DA. Isso aqui, a que você se refere MEU BEM, é CA VI AR, meu amor! Nunca viu falar não?”
“Nunca vi, nem comi, eu só ouço falar. Kkkkkkkkk”. E todos eles riram bastante da reprodução desse trecho da famosa música do Zeca Pagodinho.
Louis interveio: “QUE RI DA, isso aqui é Caviar com “C” maiúsculo minha filha. Não é falsificação não. Sério CA – VI- AR e do verdadeiro, com ovas de fêmeas de esturjão e tudo o que tem direito”.
Todos foram se servindo, passando camadas sobre camadas de caviar sobre os biscoitos cream cracker, tendo café por acompanhamento. Falavam alto, de boca cheia, esbaldavam-se na iguaria.
Magá, que não deixa por menos, após dar uma mordida no cracker sobreposto de caviar, perguntou ao Louis: “Mas Louis, me explica uma coisa: Como foi que você conseguiu isso?”
Louis sério, mas em tom de brincadeira, respondeu: “QUE RI DAAA, eu já te falei que isso não é issooo. Isooo, QUE RI DAAA, é caviar meu bem, CA VI AR”.
“Então Louis, como você conseguiu esse CA VI AR?”, perguntou Magá.
“Aí também você tá querendo saber demais não é MA GAAÁ?!”, respondeu Louis.
Em meio às extrovertidas gargalhadas, precisei deixar o recinto envolto em meu questionamento: Seriam o cracker e café preto, acompanhamentos adequados para caviar? E falar de boca cheia, É finesse?