FRAGMENTO DO TEMPO - 4

ADOLESCÊNCIA

As minhas maiores paixões na adolescência, foram sem dúvida alguma, os livros e a música. Minha relação com a música até hoje ainda é muito forte, que aprendi a admirar as preferidas de meus pais, todas com letras belíssimas e arranjos melodiosos, sem nenhum duplo sentido, ou apelo a sensualidade.

Gostava de ouvi-los cantar e contar histórias, de uma época em que o rádio era o veículo de comunicação mais importante, ou mesmo o único, principalmente na divulgação jornalística e musical.

Paizinho gostava das músicas de Carlos Galhardo, “Última Inspiração", "Amélia", de Ataulfo Alves, etc. Certa vez contou que uma senhora da alta sociedade gostava de ouvir as músicas de Orlando Silva, e acontecendo um show dele, ela foi conhecê-lo, porem muito se decepcionou com a sua cor. Daí ele fez essa música em resposta: "Eu nasci num clima quente / Você diz a toda gente / Que eu sou moreno demais / Não maltrate / O seu pretinho / Que lhe faz tanto carinho / Que no fundo é um rapaz...", situação bem diferente da que vivemos atualmente, em que graças a globalização, todo tipo de comunicação é divulgado em tempo real.

Quanto a Mãezinha, essa tinha preferência por Dalva de Oliveira, "Que Será?", "Vingança" com Linda Batista, músicas sertanejas, principalmente as de Luiz Gonzaga, como também apreciava o ritmo dos cantadores de viola.

Porém em plena efervescência da Jovem guarda logo me adaptei com esse novo estilo, que não agradava aos de outras décadas, visto que seguiam um estilo bem diferente do que eles estavam acostumados. O mesmo ocorre atualmente, até por que, à proporção que o tempo passa a qualidade vai caindo.

Enfim, aquelas músicas falavam a minha linguagem, Roberto Carlos traduzia os meus sentimentos ao cantar “...Agora não vou mais chorar, cansei de esperar... só vou gostar de quem gosta de mim...”.

Jerry Adriani era o meu ídolo, e muito me emocionava ao ouvi-lo cantar pra mim, "Querida" “Tem feitiço os teus olhos...” "És o meu amor". Ronnie Von, quanta meiguice! na “Praça” com seu conto de fada, era o príncipe que eu queria ter.

Wilson Simonal descendo a ladeira com "Sá Marina" gingava gostoso. Como sentia vontade de chorar ao ouvir Sergio Reis lamentar e dizer “Meu coração não é de papel...”, ainda bem que Paulo Sergio me consolava ao ouvir dele, “Sorri meu bem, não chore mais...” e em seguida cantar para mim sua “Ultima Canção”,

Por outro lado, Martinha afirmava corajosamente “Eu daria a minha vida” pra você ficar, Leno e Lillian com sua "Pobreza" propagava que “Todo mundo tem um amor na vida e por ele tudo é capaz...”, e Vanuza pensativa rasgando uma “Mensagem”, para não sofrer mais.

Enquanto isso, Martinho da Vila viajando todo o Brasil, encantava com sua “Aquarela Brasileira “, embora naquele tempo Bezerra da Silva já afirmasse “Se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão”,mas mesmo assim os Vips guardavam tudo de bom, pensando na “Volta” de sua amada.

Vale ainda lembrar do “Bom” Eduardo Araújo, em seu carro vermelho, de Lilian, que culpava a vida por ser “Rebelde”, Erasmo Carlos ocupado em prender uma “Gatinha manhosa” em seu coração, do Wanderley Cardoso, querendo ser “O bom Rapaz”, Antonio Marcos anunciando “O homem de Nazaré” e de Wanderléa que apesar de sua “Ternura” ordenou ao padre "Pare o casamento".

Havia também a meiga Celly Campelo toda enfeitada com “Lacinhos cor de rosa” querendo ir a “Festa do Bolinha” do Trio Esperança e finalmente The Fivers, que se recusavam dar “Um mar de rosas” para sua amada.

Tempos áureos aqueles, os jovens mancebos faziam serenatas para sua amada, mandavam flores, e só namoravam de cadeirinha na calçada, se os pais aprovassem.

A moçada se reunia para dançar em "tertúlias", a maioria em residências, onde muitos casais se formavam, e o melhor, uniam suas vidas diante do altar, permanecendo juntos e fiéis até que a morte os separassem.

E como cantava Nelson Gonçalves e Milton Carlos no "Café Nice", Ah que saudade me dá...