TRISTES VIDAS
“Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!”
Alice estava justamente pensando nesta frase do Vinícius de Moraes enquanto sentia a tristeza invadir seu peito. Uma dose de uísque, um cigarro e pensamentos vagando pela sua vida, pela vida como um todo, pela triste humanidade.
Como pode entender que ainda existam pessoas que não sabem receber e nem dar amor? Ela pensava em um tipo maior de amor, o amor amigo, aquele que faz com que nos preocupemos, cuidemos e nos dediquemos às pessoas por quem sentimos tanto apreço. E não é um sentimento que qualquer pessoa nos desperte. É somente para pessoas que realmente toquem nosso coração, despertem nossa empatia, nossa imensa capacidade de doação.
Ela se perguntava se essas pessoas que nos ferem, nos fazem chorar, algum dia foram amadas de verdade, pelos pais, mães, irmãos, amigos. Porque não consegue entender como pode ter um sentimento tão puro, como retorno, as mais duras palavras e a mais triste decepção.
O coração de Alice é tão grande que sempre abrigou, dentro dele, pessoas de quem ela cuidou, amou, se doou de uma forma completa, inteira e dedicada. Muitos morreram, o que causou em seu ser as piores dores, os piores tremores, as mais profundas tristezas. Mas ela sempre encontrava outras pessoas para amar e cuidar. E assim foi sua vida. Enterrou alguns vivos e outros realmente mortos. E sofreu em cada uma dessas vezes.
Alice, que sempre agiu assim desde menina, hoje é uma mulher madura, mas a frieza e o distanciamento tomaram o lugar que pertencia aos mais puros sentimentos. Um dia ela chorou tanto, como já havia chorado em tempos pretéritos, que desistiu de tudo. Não quer saber da humanidade. Amigos? Somente os que ela já possui, não quer adicionar mais nenhum. Chega de se doar e receber, em troca, tantas bofetadas. Não, a vida realmente é capaz de tirar o melhor que os seres humanos possuem e, em seu lugar, colocar, além da dor, uma imensa indiferença em relação à humanidade.
Tristes vidas a desses seres que não foram amados e que, por isso, não sabem dar e nem receber amor. Expulsam, sem pensar duas vezes, aqueles que podem ser de grande valia nos bons e maus momentos, estarem sempre esperando um chamado para fazer companhia, rir e chorar juntos, escutar pacientemente, tentar fazer algo para minorar a dor do amigo.
Alice viu que seu copo estava vazio. Assim também se sentia por ter perdido uma pessoa querida. Mas ela é uma fortaleza e se erguerá, ainda com mais desprezo pelos que são ocos por dentro, que guardam somente ressentimentos e ódios. Que pena!
Realmente o poeta tinha razão. É grande a dor de quem perde os amigos, mas, no futuro, quem sentirá mais não serei eu, Alice, e sim quem foi burro o suficiente para me perder.
Campos dos Goytacazes, 23 de agosto de 2014 – 00:13 horas
Para todos aqueles que vieram ao mundo e “perderam a viagem”