Sensações

Andava pelo caminho de sempre, nunca tinha mudado minha rota. Olhava para os lados e tentava sentir o frescor que vinha em sentido contrário ao meu. Era como se estivesse numa tranquilidade, tudo era deserto, só via um homem sentado no banco de pernas cruzadas e usando uns óculos meio quadrados e logo depois um outro segurando se violão, mas, mesmo assim, eu me sentia dono do local. Era bem cedo, quase não se podia ver o raiar do dia.

O meu andar era cada vez mais propenso à estaticidade, quase parando. Hora ou outra olhava pelos lados para ver se não vinha ninguém. A sensação era de absoluta posse de onde eu estava. A maciez do chão parecia uma enorme massagem em meus pés, a vontade era de não parar mais e de não sair de onde eu estava. Logo, começava a surgir uma luz quase na direção dos meus olhos, uma luz ainda fraca pelo horário do dia.

Seguia pelo meu caminho e, a cada passo, me brotava um pensamento de repleta nostalgia de um tempo que não podia recuperar, mas podia lembrar de cada aspecto aqui sentido, algo palpável e imensurável. Tudo que passava diante do meu tato e da minha visão eu iria lembrar. Tudo era êxtase, desde o frescor do vento, do chão macio e molhado que meus pés tocavam, até a luz que batia nos meus olhos fechados.

A sensação nunca iria se esvair de mim. Tudo o que eu sentia eu iria levar para mim, como se eu levasse o local comigo dentro da imaginação. Nada acabaria, permanecer-se-ia dentro dos meus pensamentos para que eu pudesse viver esse momento sempre até eu poder sentir mais uma vez presencialmente.

Ricardo Miranda Filho
Enviado por Ricardo Miranda Filho em 16/08/2014
Reeditado em 03/09/2014
Código do texto: T4925198
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