VIOLANDO O CORPO DE UMA POETA MORTA E OUTRAS TARAS TARADAS PARTE I

VIOLANDO O CORPO DE UMA POETA MORTA

E OUTRAS TARAS TARADAS

PARTE 1

Pedi para Carlo calar a boca . Estávamos no ônibus a caminho da casa de Vânia . Oito da noite de uma sexta feira , a condução lotada de adolescentes cheios de gás e perfumados , dentes escovados e gel no cabelo . Tinha esse casalzinho sentado bem ao nosso lado , e eles ouviam tudo .

- Não sei você , Oliver , mas eu já fantasiei transar com uma mulher menstruada . Deve ser bom , porque você não precisa usar camisinha .Elas não engravidam .

Tentei disfarçar , fingir que não era comigo . O ônibus parou para recolher mais adolescentes , esses , tiveram de seguir no corredor .

- Já viu que em filmes pornográficos europeus os caras sempre tem o cu chupado ? - As luzes da cidade se misturavam com as dos carros parados nos cruzamentos . - Li em algum lugar que a sensação é como a de uma cagada longa e quentinha .

Eu sabia que não podia fumar dentro do ônibus , mas acendi um cigarro mesmo assim . Eramos o centro das atenções , as garotas pareciam constrangidas e os caras riam das informações gratuitas despejadas por Carlo .

Não nos expulsaram do ônibus e fomos despejados a duas quadras da casa de Vânia . Uma noite fria aquela , as estrelas se escondiam por de trás de nuvens escuras e a lua era só uma lembrança no céu . Passamos por uma dupla tipica de amigos ferrados formada por um cão vira lata rajado e seu companheiro de calças curtas e desdentado . Os dois dividiam espaço sobre uma caixa de papelão na calçada , em frente a uma locadora fechada , e quando passamos por eles resolvemos deixar alguma grana . O sujeito agradeceu mostrando suas gengivas , e em seguida nos ofereceu um pouco da sua garrafinha plástica . Carlo avançou sem pensar , eu , ainda meio relutante com a possibilidade daquilo ser urina dei uma cheirada antes .

- O que é isso ? perguntei .

As palavras escorregaram dos lábios do homem .

- Isso , meu jovem , é o que difere homens de garotos .

Carlo me olhou , sorrindo , para dizer que havia gostado do cara .

- Esse tipo de gente tem sempre uma nova , sempre com ideias espertas , Oliver . Acho que devemos leva lo com a gente .

- Levar ?

- Para a casa de Vânia!

Finalmente enchi as bochechas com o liquido . E vou te dizer , não era de todo ruim .Era forte , quente , e apesar de não cheirar bem ( parecia peido engarrafado ) desceu e se aconchegou no meu estomago .

- Carlo , não sei não . Já estou levando você , que nem foi convidado , mas você é meu editor e tem bom papo , mas esse sujeito ….

Carlo brincava com o cachorro , fazendo cafune na sua cabeça repleta de pelo emaranhado .

- Temos que levar o cachorro também . Olhe só para ele e me diga se não é simpático ?

Tomei outro trago e dei uma boa olhada para o cão . A pesar da sujeira , era um tipo simpático , com suas orelhas caídas e rabo erguido que não parava de dançar .

- Que seja então . Senhor , você tem nome ? - perguntei ao homem , que olhava tudo bem distante , e quando digo distante estou me referindo a sua cabeça .

Repeti a pergunta .

- Oh ,sim , meu nome . O pessoal costuma me chamar de Francisco – disse ele .

- E se a gente lhe chamar de Ricardo , ou quem sabe Victor ? - disse Carlo , ainda brincando com o cão .

- Prefiro Lourenço , era assim que minha mãe costumava me chamar – falou o homem , pegando a garrafa da minha mão .

- Que seja então – disse Carlo , estendendo a mão para ajudar Lourenço se levantar – Você esta oficialmente dentro da festa , meu chapa !

Batemos na porta de Vânia , eu , Carlo , Lourenço e seu cachorro . Ela não se importou com Carlo , afinal de contas , já se conheciam , mas me encarou quando apresentei a dupla .

- Eles precisam entrar – falei , apontando para os dois – são a alma da festa .

Ela acabou concordando mais ou menos , e para não criar caso deixou os dois avançarem . Aquela festa , que não era bem uma festa mas só uma reunião para se jogar papo fora e fumar erva , começou com Carlo revelando seu desejos sexuais reprimidos . Repetiu toda a conversa do ônibus e acrescentou que gostaria muito de ir a Tailândia ver mulheres transarem com jumentos .

- Eu não sei se isso existe mesmo , porque nos filmes eles podem inventar tudo , mas se isso existe mesmo gostaria muito de ver .

- Meu deus , Carlo , mas que merda – falei , me servindo de uma porção de batata frita e maionese – qual o seu problema ? Você esta o dia inteiro falando sobre essas porcarias , acho que ninguém quer ouvir isso , ou pelo menos eu não quero .

Vânia que enrolava um cigarro de maconha ao meu lado no sofá da sala me encarou .

- Olha só quem diz ? O cara que escreve sobre necrofilia criticando atos sexuais entre humanos e animais ….

Carlo saiu em minha defesa , dizendo que o que eu fazia era arte .

- Pode ser só merda , mas as pessoas andam me pagando por isso .

Falei , me levantando .

- Vânia , minha querida – disse eu – tem algo que se beba nessa casa ?

Tinha sim , e era uma garrafa de Morte Destilada . Fui até a cozinha apanhar . Nunca soube muito bem o que Vânia fazia para ganhar a vida , mas sua casa era grande , tinha uma bela piscina e churrasqueira . Para chegar na cozinha passei por dois quartos , portas escancaradas , cheios de quadros encostados nas paredes . Bom , eu sabia que ela gostava de arte , colecionava replicas de pintores famosos e algumas esculturas indígenas . Voltei para a sala com o litro , estava pela metade . O homem e seu cachorro ainda não haviam dito uma palavra se quer . O cão dormia aos seus pés enquanto ele fumava da maconha de Vânia . Quando me sentei no sofá Carlo me passou uma folha .

- Cara , você precisa ler isso aqui – disse ele , apontando para o papel .

Dei uma olhada . Li a primeira linha e depois a segunda . se tratava de um conto .

Começava assim :

**''Havia sobre a mesa ...pedaços humanos . Pedaços femininos. Eramos quatro a mesa .O corpo era meu , alias , é meu …''

Carlo aguardava minha reação após a leitura .

- Então , o que achou ? Incrível , não é ?

Tinha outro , esse um poema . Falava sobre fumar o coração e outras coisas .

- Qual o problema do autor ? - perguntei eu .

- Problema ? Bom , pra começo de conversa não é autor , é autora . Veja o nome no final do poema , Edvania , esta vendo .

Li outro poema :

***''Brilhava a lua no alto . Lua linda . Senti vontade de lambê-la, chupá-la. Lua linda . Comia ela todinha . Parecia um cu ''

Com esse , essa tal de Edvania havia me ganhado . Era o tipo de literatura feita sobre medida para os insanos e doentes .

Carlo mantinha um sorriso louco no rosto enquanto me observava . Perguntei onde havia conseguido aquelas coisas , e antecipando-se a responder Vânia ergueu a mão .

- Culpada , caro Oliver .

Havia uma porção deles , todos igualmente depravados , poéticos e sujos .

- E eu só faço uma pergunta , onde alguém assim se esconde ? - perguntei eu , depois de ler uma porção deles .

Agora havia sido a vez de Carlo se antecipar .

- Essa é a melhor parte , meu chapa . Vânia esta disposta a nos ceder todo material que possui dessa autora em troca da participação das vendagens da D.S.T , ou melhor , dos volumes que seus contos forem impressos ….

- Ta legal , mas para isso não precisaríamos da autorização dessa tal Edvania primeiro ?

Carlo riu , depois coçou a cabeça e deu um trago na Morte Destilada . Perguntei qual a graça .

- Deixe me explicar uma coisa , esse material nunca foi publicado , e ao menos que você fale com os mortos , a gente não tem de pedir autorização a ninguém . O que fazemos é o seguinte : pegamos os textos e simplesmente botamos seu nome nele . Você sabe melhor que ninguém que ultimamente anda sofrendo de bloqueio criativo , e isso pode salvar sua carreira …

- Espera ai , você esta falando sério ? Bom , Carlo , deve existir leis contra isso …

- Vê se entende uma coisa , essa tal Edvania esta morta , ninguém sabe desses textos além de nós três aqui .

Com nós três ele se referiu e a mim , Vânia e ele próprio . O lembrei sobre Lourenço .

- A claro , tem o Lourenço , desculpa amigão – disse Carlo dando dois tapinhas nas costas do homem .

Era uma ideia ruim pra cacete aquela , tirando o fato disso parecer pecado ou coisa que o valha . Arranquei a garrafa de Morte Destilada da mão do meu editor e tomei um bom trago para ajudar engolir aquela historia toda ….

**TEXTO PERVERSÃO – EDIVANA

***POEMA PARAFILIA – EDIVANA

Para Edivana , cujo o nome segundo o Google e todas as

outras plataformas na web é um erro .

12/08/2014

17h09m

Cleber Inacio
Enviado por Cleber Inacio em 12/08/2014
Código do texto: T4919935
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.