SÍNDROME

Havia um telefone tocando em algum lugar, uma mulher cantava uma cantiga cristã, enquanto esfregava o chão, bem à cima de sua cabeça.

Ao fundo, alguém trabalhava, batendo algo metálico e emitindo um som irritante.

Chovia desde às seis, já eram nove horas. Mas não era a chuva que não a deixava sair para o trabalho.

Não era seu corpo trêmulo e a visão embaçada.

Não era a sua decadência.

Dessa vez, não era nem a imagem dela refletida em sua mente.

Não era o efeito do entorpecente percorrendo seu corpo.

Havia um pavor em seus olhos, perdidos no ar.

A imagem, quase sempre patética, da boca repuxada para baixo, dessa vez, parecia esconder algo.

Como um prédio a ranger, prestes a ruir, ela parecia tentar se manter por dentro.

As mãos levadas abruptamente à cara denunciavam o desespero.

As lembranças do pânico quase o trazia de volta.

Era o medo que a aprisionava.

Daiane Alves
Enviado por Daiane Alves em 11/08/2014
Código do texto: T4918638
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