SÍNDROME
Havia um telefone tocando em algum lugar, uma mulher cantava uma cantiga cristã, enquanto esfregava o chão, bem à cima de sua cabeça.
Ao fundo, alguém trabalhava, batendo algo metálico e emitindo um som irritante.
Chovia desde às seis, já eram nove horas. Mas não era a chuva que não a deixava sair para o trabalho.
Não era seu corpo trêmulo e a visão embaçada.
Não era a sua decadência.
Dessa vez, não era nem a imagem dela refletida em sua mente.
Não era o efeito do entorpecente percorrendo seu corpo.
Havia um pavor em seus olhos, perdidos no ar.
A imagem, quase sempre patética, da boca repuxada para baixo, dessa vez, parecia esconder algo.
Como um prédio a ranger, prestes a ruir, ela parecia tentar se manter por dentro.
As mãos levadas abruptamente à cara denunciavam o desespero.
As lembranças do pânico quase o trazia de volta.
Era o medo que a aprisionava.