Aviso Prévio

Ultimo dia do mês. O medo já fazia as pernas tremerem. O dia ficava mais longo e estressante. Pessoas corriam apressadas, atendiam clientes, recebiam dinheiro ligavam para as demais lojas. E outras pessoas davam bronca nas pessoas que corriam que atendiam clientes e que ligava para as demais lojas. Aquele era definitivamente o pior dia do mês. O dia que todos odiavam, era o dia do fechamento. Daquele dia não tinha como fugir, era o julgamento final. Quem bateu meta estava de boa, ia pra casa descontar o estresse na família. Os que não batiam meta ficavam na loja para conversar com seu gerente de setor. Conversar não, na verdade iam ouvir um monte de baboseiras do gerente.

E Pedro sabia que no final daquele dia ele não ia para casa descontar o estresse na família. Com certeza ia conversar com o gerente. Já era quase 17h00 e pelas contas que ele havia feito não tinha batido nem 50% de suas metas. Uma grande decepção pra ele que com certeza não ia receber quase nada de salário. Mas a preocupação era o que falar para o gerente. Será melhor dizer que é a crise, isso não colaria, os demais haviam feito acima de 80% da meta individual. O estresse tomou conta dele e ele não sabia o que fazer, com certeza perderia o emprego.

Fim de expediente alguém interfona, o gerente queria conversar com ele como já previsto. Quanto chegou ao escritório do gerente percebeu que não tinha sido só ele que não tinha batido a meta. Até Gustavo estava à espera para conversar com o gerente. Gustavo já tinha ganhado até premio pelo seu número de negócio já feito. Pedro não disse nada. Sentou e ficou esperando ser chamado. Gustavo foi chamado, depois o cara gordo que vendia seguro. Depois a menina da boutique. Depois um dos “caras” que vendia os carros e só depois Pedro, ele trabalhava no setor de peças. Quando entrou na sala viu na cara do gerente o cansaço estampado ao lado do cansaço à decepção. O gerente olhou-o e disse que não tinha o que conversar com Pedro que ele, Pedro, deveria ir, no dia seguinte conversar com os recursos humanos.

No dia seguinte foi ao escritório e encontrou as mesmas pessoas a espera para falar com o Gerente de recursos humanos. E por inacreditável que pareça o atendimento seguiu a mesma sequencia do dia anterior e assim ele foi o ultimo a ser atendido, a ser demitido. Quando estava assinando o seu Aviso Prévio alguém entra sem avisar, era o gerente de vendas com quem havia falado no dia seguinte. O gerente de vendas pediu desculpas por atrapalhar. Mas o gerente de Recursos Humanos lhe pediu para assinar seu aviso prévio também.

Pedro ficou surpreso, pois aquele era o único mês que eles não haviam batido meta. Mas não questionou, assinou seu aviso e voltou para seu posto. Muita gente, os que haviam assinado o aviso, falavam mal do patrão, umas 5 pessoas. Pedro não tinha gostado de ser demitido. Mas ficou calado com seu trabalho.

Essa é a realidade do ramo de vendas, não vendeu é rua – comentava um deles. O pior é Zé que tem 3 filhos – dizia outro. Mas, a verdade é que todos tinham se dado mal. Tinham que buscar um novo emprego, pois só lhes restavam 30 dias de trabalho.

Nilson Rutizat
Enviado por Nilson Rutizat em 31/07/2014
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