(R)Existência

Hoje eu não acredito em Deus. Nem hesitarei em pensar na existência de algo maior. O céu, hoje, é atmosfera. E o azul é somente uma reação da incidência solar. As igrejas e bíblias serão shows de ficção dos quais eu não servirei de público. Hoje a religião é uma farsa e eu não dou a mínima para isso.

Hoje eu serei memória. E não quero passar disso. Para aqueles que estão próximos, eu darei seu merecido tempo. Para os que estão longe, honrarei o tratado subliminar de nossa distância. Hoje eu não passarei de uma sombra de seu passado, e nada mais.

Hoje eu não irei me importar com aquele que for inferior a mim. A responsabilidade de sua queda é apenas sua, e minha compaixão irá apenas reforçar sua fraqueza. Não obstante, os superiores provarão do mesmo desprezo. Não serei seu escravo e não trocarei meu orgulho, através de elogios baratos, por um pouco de reconhecimento. Hoje o ser humano não é nada para mim.

Hoje eu não serei humano. Que meu Amor pela vida seja guardado num caixão e enterrado em minha mente. Não passarei de um receptáculo robótico, desprovido de moderação e banhado em abundância daquilo que eu nem mesmo sei dizer se quero. Hoje eu serei um vício ambulante até conseguir corroer minha última essência humana.

Hoje eu esquecerei a tudo, eu esquecerei a todos. Os sonhos serão meras alucinações geradas enquanto durmo. As metas serão apagadas de minha visão futuro junto com tudo aquilo que me parecer exigir esforços. Hoje o passado deixa de existir, e o futuro deixa de preocupar.

Hoje eu não precisarei de razão. Dilemas serão resolvidos com a simples e sábia escolha do acaso. Eu não me importarei com o conhecimento, assim como ele não se importa comigo. O mundo hoje entra o automático, e só precisarei garantir que a máquina, meu corpo, permanecerá ligada até o fim do dia.

Porque hoje apenas o presente é a prova de minha Existência. O sistema funciona apenas o suficiente para permanecer funcionando, e isto basta. Hoje eu sou como qualquer outra pessoa. Hoje minha vida tem tanto significado quanto aquela que deixou de existir para me alimentar, e minha existência pesa tanto quanto a minha consciência.