O Assassinato de Luíza
Aos poucos, Luíza foi mudando.
Tornou-se mais religiosa e passou a ler mais os livros da estante dos seus pais, como bem quiseram. Passou a desenhar menos, pois, desde criança, ninguém parecia se interessar por aquilo. Depois, abandonou a música para dedicar-se aos negócios da família, porque, segundo o que lhe diziam, era isso que levaria à ascensão social.
Luíza diminuiu a extravagância que tanto incomodava quem a cercava. Deixou de lado as roupas antigas. O corpo antigo, antes tão seu, agora lhe parecia tão pouco desejado, pois não atendia ao que era ditado. Largou o cigarro, porque aquilo não parecia certo. À medida que a bebida se tornava um imperativo em seu convívio social, passou a beber mais. Mudou seus hábitos para satisfazer e agradar cada amor que passou por sua vida.
E assim, a cada pedido atendido, a cada caminho abandonado, sua imagem no espelho foi tornando-se irreconhecível.
Aos poucos, Luíza foi morrendo.
Pedaço por pedaço.