PRÓXIMA PARADA

Duas patricinhas que nunca andaram de ônibus na vida embarcaram no coletivo lotado.

“Quanto é a passagem?” Perguntou uma delas.

“Dois e trinta.” Respondeu o cobrador.

Elas ficaram espremidas perto da roleta.

“Ai, Úrsula, tô ficando sem ar...”

“Eu também. Que calor!”

“Úrsula, tô passando mal!”

“Cobrador, peça para o motorista ligar o ar condicionado.” Falou uma delas.

O cobrador, contando dinheiro:

“Esse ônibus não tem ar condicionado.”

“Ai, não acredito! Assim nós vamos morrer de tanto calor! Que absurdo!”

Os passageiros não estavam gostando nem um pouquinho da presença das duas.

“Eu não estou aguentando mais, Cris! Acho que vou desmaiar...”

A outra tapava o nariz.

“Que cheiro horrível!”

“Cheiro de suor.”

O celular da outra tocou.

“Alô! Oi, paizinho! Já estamos voltando. De que jeito? De ônibus. É, de ônibus... por aqui não passa táxi de jeito nenhum! Paizinho, tá um calor tremendo aqui dentro e não há nem lugar para a gente se segurar direito, fora o cheiro de suor... Ninguém merece!”

Os passageiros tentavam desviar a atenção da conversa.

“Da próxima vez venha nos buscar de carro, a Úrsula está quase morrendo aqui dentro... Ah, é? Tá bom, obrigada! Tchau, paizinho!”

O ônibus freou bruscamente e elas se desequilibraram.

“AAAAAAAAIII! O que é isso? Nossa! Quebrei minha unha!”

“Como é que alguém pode dirigir dessa maneira?”

“Eu ainda não sei como... Ai, moço, chega pra lá, tô ficando sufocada!”

“AAAAAAAIII! Ai! Ai! Ai! Ai! Ai!”

“O que houve?”

“Aquele homem pisou no meu pé.”

“Pelo tamanho dele deve ter esmagado seu pé.”

“Ai, tá doendo muito!”

A outra se abanava com uma das mãos.

“Preciso de ar puro, Cris.”

O ônibus fez uma curva e elas se desequilibraram novamente.

“Nossa! Que pesadelo!”

“Úrsula, olhe só, quebrei minha unha...”

“Esta é a única e última vez que entro em uma coisa como essa.”

“Moço, chega pra lá, por favor! Você tá me machucando!”

Os passageiros já estavam irritados.

“Úrsula, tô ficando com enjoo...”

“Eu também.”

Um passageiro, sem querer, deu um esbarrão em uma delas.

“Nossaaa! Olhe por onde anda, você quase arrancou meu braço!”

“Parecem cavalos!”

Naquele trecho aumentou a movimentação de pessoas, muitas desembarcavam e outras embarcavam no coletivo.

“Cris, eu não estou gostando dessa esfregação... ninguém pede licença, que mal educados!”

“Moço, chega pra lá!”

Um homem que estava perto delas disse:

“Nós temos o direito de viajar sossegados. Vocês estão perturbando com essa falação, se não querem andar de ônibus, desçam! Todos nós vamos agradecer.”

Os outros passageiros concordaram com o homem.

“Que gente encrenqueira! Cobrador, faça alguma coisa... você viu? Estão nos ameaçando!”

O cobrador contava moedas e nem olhou para as duas.

O ônibus freou novamente de maneira brusca.

“Cris, o que nós fizemos para merecer isto?”

“Tô passando mal...”

“Esse cheiro de suor está in-su-por-tá-vel!”

“E com esse calor...”

“Vamos descer e pegar um táxi?”

“Vamos, mas neste lugar é difícil encontrar um táxi.”

“Não importa, aqui dentro eu não fico mais.”

“Espera aí, motorista, nós vamos descer!”

“Dá licença, deixa a gente passar.”

Os passageiros gritavam:

“Até que enfim! Até que enfim!”

“Que bando de mal educados.”

Elas desceram do ônibus, para alívio dos passageiros e conseguiram pegar táxi, em seguida.

“Oi, meninas, tudo bem?” Disse o taxista.

“Não acredito! Civilização, finalmente!”

“Moço você caiu do céu!”

“Vocês deram sorte, nós não costumamos fazer corridas nesse lugar.”

As duas se refrescavam com o moderno sistema de ar condicionado do veículo e retocavam a maquiagem.

“Agora nós estamos purificadas.”

“Como assim?” Perguntou o taxista.

“Acabamos de pagar todos os nossos pecados dentro daquele chiqueiro sobre rodas que já vai ali na frente.”

Alveres
Enviado por Alveres em 19/07/2014
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