O REENCONTRO ( Kilza Maria)

Quando meu filho partiu, ficou em meu coração, além da saudade infinita, o imenso desejo de vê- lo mais uma vez. Tudo o que eu ansiava era poder tocar outra vez o seu rosto, sentir o abraço amoroso, cálido, cuja sensação está gravada para sempre na minha lembrança.

O meu amor, porém era tão grande quanto a minha angústia pelo desejo de justiça. Afinal não existe sobriedade, razão ou bom senso em aceitar que quem deveria proteger a vida, matou meu filho.

Assim os dias se arrastavam, mesmo estando no calor do seio familiar, recebendo amor e carinho de todos os lados, a solidariedade dos amigos, o espaço que é do meu filho, jamais será preenchido. Minhas lágrimas teimam em cair, outras vezes secam, e minha garganta sente a dor do o grito represado.

Depois de um dia estafante, me deitei como de costume, e diferente de outras ocasiões nesta noite eu adormeci, um sono profundo embalado por um sonho.

Eu sonhava, mas de repente me vi desperta... E saí do meu corpo, caminhei pela casa, me dirigi até a sala principal, abri a porta da frente e fui até a rua.

Caminhando em minha direção vinham três pessoas. Duas vinham mais à frente, e outra atrás, mais afastada. Eu não os reconheci. Então quando se aproximaram de mim, os dois homens da frente se afastaram, e o que vinha antes atrás, se aproximou, me sorriu. Que surpresa maravilhosa! Era o meu filho.

Corremos ao encontro um do outro, nos abraçamos fortemente, e ficamos assim abraçados, vivendo aquele momento lindo, real, intenso.

Naquele instante a realidade e a eternidade se transformaram unicamente em Reencontro. E todo meu sofrimento se diluiu naquele amplexo tão desejado! Porém minha angústia, ainda era evidente, visível, palpável! Então meu filho me pediu encarecidamente que eu não sofresse tanto. Ele estava bem!

E meu Gilnê partiu mais uma vez, deixando em mim o calor daquele abençoado abraço. A presença marcante do meu anjo amado foi como um bálsamo aliviando a dor, o sofrimento, a saudade...

Eu retornei feliz para o meu quarto, estive com meu filho. Que alegria maior pode haver no mundo?

Porém eu me deparei com tal estranha cena: Vi minha filha chorando abraçada ao meu corpo que se encontrava inerte sobre a cama.

Eu e minha filha choramos muito, mas de alegria, quando ela me viu despertar e teve a certeza que eu me encontrava viva, feliz, principalmente porque naquele instante que abracei meu filho, seu abraço preencheu o vazio que sua ausência havia deixando em minha vida.

Eu me chamo Kilza Maria, esta é a inexplicável história verídica de um antecipado Reencontro.

Ainda hoje não compreendo se Deus me levou até o Céu para encontrar meu filho ou se ele veio até a nossa casa mais uma vez.

De tudo, enfim, ficou a certeza de que vivi uma grande emoção, que me fez sentir novamente o prazer de respirar o perfume das flores, me fez enxergar de novo o brilho das estrelas e o azul do céu nos dias ensolarados. Tudo que estava desbotado, sem graça e sem vida, recebeu um novo colorido, um novo sentido!

O nosso último abraço me devolveu um pouco da felicidade perdida quando homens maus levaram de mim o meu bem mais precioso, o meu filho.

O sublime Reencontro que antecipou a eternidade me marcou para sempre, pois o ocorrido naquela inesquecível noite e o tão desejado abraço do meu Gilnê está amalgamado em minha alma para sempre.