A Oxidação da Amizade
Amizade
De infância, gratuíta, geralmente as mais duradouras.
Na juventude, passageira, pois geralmente é substituída por uma faculdade e depois, por um emprego.
Na maturidade, geralmente dura o tempo que o tempo durar... o tempo de um jogo, de uma cerveja, de uma festa, de uma reunião, de uma viagem, de um reencontro, mas, depois de um hiato, sempre volta quando surgir uma nova cerveja, uma nova festa, uma nova reunião, uma nova viagem e, nesse reencontro haverá uma atualização de assuntos, de alegrias, de tristezas, de novidades e “velhidades”, pois o que é velho pro outro é novo pra você. E o hiato desaparece como se nunca tivesse ocorrido. Todos são muito ocupados com os seus afazeres, a sua família, mas o amigo fica ali hibernando num cantinho do coração, da mente, mantido pelo sentimento da amizade, das lembranças, pronto para sair da toca, como um urso, faminto, após longo período de hibernação – o hiato do último encontro.
Na velhice... bem, não existe velhice! Existem arquivos! Existem memórias! Um eterno "dowload" de maturidade, pois cada experiência, cada sorte ou azar, é absorvido e mesclado aos seus conhecimentos anteriores. São as novas pastas acrescidas às gavetas ao longo da vida. O corpo do arquivo, com suas gavetas rangedoras, pode estar enferrujado, desgastado pelo tempo, ou conservado ou muito bem preservado, apesar da idade... Mas terá a aparência do cuidado que lhe dispensam. Mas um arquivo, enferrujado, conservado ou muito bem preservado, contém memórias, registros, tesouros acumulados ao longo de épocas anteriores e atuais a você.
Com o tempo, por maiores cuidados que se tenha, as folhas começam a ficar amareladas. As traças começam a corroer parte das informações inportantes que você tanto lutou para preservar. Alguns dos seus documentos você já repassou aos cuidados de outros, outros, você perdeu ao longo da vida. Outros ainda, foram para o arquivo morto esperando expurgo. Alguns são incinerados!
As traças podem ser as doenças, as intrigas, as conspirações – ilusórias, imaginárias ou reais da vida. O filho ou filha, ou netos que você tanto amou e educou e cuidou, já estão agora aos cuidados de outros, com suas novas famílias, suas esposas, seus empregos, suas vidas... Eram documentos importantes? Eram! Mas não estão mais sob os seus cuidados. Talvez você é que seja agora um documento importante aos cuidados deles, nos arquivos deles. No arquivo morto ficam guardadas as pessoas importantes, que você nunca mais verá, mas das quais nunca se esquecerá... até se esquecer! Pois mesmos as plantas mais resistentes do deserto precisam de um pouco de umidade para se manter. São pessoas que se afastaram ou foram afastadas por você. Pessoas que você não sabe se estão vivas. Se estão bem, apesar do tempo... Pessoas que já morreram em sua carne, mas vivem ainda em sua memória... até serem expurgadas até mesmo de lá.
Mas, do mesmo modo que você tem um arquivo de pessoas e coisas, pessoas e coisas tem arquivo de você. Em maior ou menor importância. Em maior ou menor volume. Algumas pastas são fininhas, outras grossas, outras grossas e com anexos... Até serem todas expurgadas, o que inclui, você!
Alguém já disse que “o que a gente leva da vida, é a vida que a gente leva”.
Que todos nós lutemos para manter e preservar ao máximo os nossos arquivos, as nossas pastas, as nossas gavetas! Pois mesmo que a sua luta contra o tempo seja uma luta perdida, saiba que a sua luta fará com que a sua história seja salva e preservada como "beckup" no arquivo de alguém. Alguém que já fez parte do seu arquivo. A maneira como você cuidou dele é o que determinará como você e suas memórias serão cuidadas por esse alguém.
No fim, o que existe de duradouro mesmo, é o tempo!
O nosso tempo de amar e ser amado é agora!
Porque também o amor...
... OXIDA!