Conto sobre o Orkut – “Odeio cagar fora de casa”

Já que o Orkut deixará de existir em setembro, por que não homenageá-lo?

Em 2004, surgiu a primeira febre brasileira no que diz respeito às redes sociais: O Orkut. No site, chamavam a atenção as comunidades, que permitiam grande interação entre os seus membros. Seja para reunir a galera da faculdade ou para aproximar pessoas com algum interesse em comum, muitas delas contavam com milhares – e até milhões – de participantes. Aquelas que apresentavam como objetivo discussões sobre futebol ou paquera também agradavam bastante. Porém, aqui, nenhuma dessas receberá destaque.

“Odeio cagar fora de casa”

“Era Jesus um X-Men?”

“Não foi eu, foi meu eu-lírico”

“Eu dou prejuízo em rodízio”

Essas comunidades tinham a sua devida atenção e contavam com milhares de membros. Não tinham o glamour de uma “Se nada der certo, viro hippie”, mas apresentavam a criatividade elevada de seus membros nos fóruns como trunfo. Criatividade essa que, muitas vezes, era nutrida por experiências pessoais.

Quem nunca passou pelo sufoco de estar na rua e sentir aquela vontade de ir ao banheiro? Não digo ir ao banheiro apenas para urinar, porque para isso dá-se um jeito ou ainda é mais fácil se segurar, mas eu digo, bem, fazer coco. Cagar. Assim mesmo, sem medir as palavras, sem eufemismos. Na comunidade “Eu odeio cagar fora de casa”, os membros contavam experiências, muitas vezes traumáticas, vividas devido a um desarranjo intestinal num momento inadequado.

Se você está no shopping, tudo bem: há banheiros de sobra. Na escola, na faculdade ou no trabalho, mesmo sob o risco de ser sacaneado pelos conhecidos, também não é das piores situações. Mas e se você está no ônibus/trem/metrô a caminho de algum lugar? Sabe quando você olha em volta e não vê onde fazer o precisa ser feito?

Certa vez, um membro do grupo disse que avistou uma lanchonete Bobs salvadora. Só assim para o Bobs servir para alguma coisa mesmo. Convenhamos que tem tudo a ver, afinal, qual o destino final do Ovomaltine? Disse o rapaz que tempos depois o estabelecimento fechou e abriu um “Bank de Boston”. Não foi um trocadilho infame.

Outro participante disse já ter passado por maus momentos também. Estava ele num centro de tradições nordestinas de sua cidade e de repente começou a sentir calafrios. Rapidamente, dirigiu-se a um banheiro. Bem sujo, diga-se de passagem. Muitas vezes, o banheiro encontrado não representa um alívio, mas uma nova preocupação, visto que não é um lugar com papel higiênico, limpeza, temperatura agradável e privacidade, mas exatamente o oposto disso.

Enfim. Terminada a tarefa, não havia papel. O que fazer? Nesse caso, deve-se observar qual peça do vestuário é a mais dispensável naquela hora. As meias ou a cueca? Bom, caso você tenha comprado alguns exemplares da literatura de cordel, apesar de não ser muito confortável, vale a pena. Jingle bell, jingle bell, acabou o papel, não faz mal, não faz mal, limpa com... cordel.