MEU TIO ELCYR

Na verdade, ele não é meu tio; não tem meu sangue, mas é meu tiozinho de coração, de amor e de família!

Foi casado durante muitos anos com minha tia Carmen (esta sim, tia verdadeira) e me deu três primas-lindas-amigas. Vejam que alegria! E como se isso não bastasse, casou-se novamente e me deu mais duas primas-lindas-amigas. Alegria novamente!

Recordo-me com muita saudade desse tio tão querido; dos meus tempos de infância, quando chegou a Rio Grande-RS para visitar-nos. De longe já se sabia que era ele quem havia chegado, pois trazia sempre pendurado no cinto, um chaveiro com muitas chaves, que faziam muuuuuuito barulho (hehehehe).

Uma vez chegou com seu carro (um Chevette cor de caramelo), todo faceiro, ansioso para mostrar o novo som que havia instalado. Entramos no carro, estacionado em frente a nossa casa, no Bairro Lar Gaúcho. Ele ligou o carro e disse: “- Olha como é potente! Escuta só como é bom este som! Ele circula dentro do carro, fazendo a volta nos quatro alto-falantes! É estéreo! Uma maravilha!”. Eu ficava como se estivesse encantada; de olhos (e ouvidos) bem abertos!

Sempre que meus pais e eu íamos a Pelotas-RS, passávamos na casa dele para visitá-lo. E como eu ficava feliz quando isso acontecia! Ele era pura gentileza, alegria, elogio, contentamento e amizade! Adorava conversar com as filhas – minhas primas Adriana, Andréia e Carla – e eu adorava ficar escutando essa conversa. Nunca o vi brigar, gritar ou bater nelas; apenas conversava, explicava a diferença entre o certo e o errado e dava conselhos.

Meu tio é sabedoria, paciência, alegria, gentileza, elogio e... música! Ah! Ele adora ouvir uma boa música! Mesmo não sabendo tocar qualquer instrumento, sabe ouvi-la. É versátil! Gosta tanto de guarânia, polca paraguaia e música sertaneja de raiz quanto gosta de rock e música clássica. Nos nossos passeios de carro, sempre cantava uma música que era mais ou menos assim: “Lua bonita se tu não fosses casada, eu pegava uma escada para ir no céu te beijar. Porque casar-se com um homem tão sisudo que come, dorme e faz tudo dentro do teu coração?...”.

Há uns três anos, tive a satisfação de recebê-lo em minha casa. Eu e meu marido tivemos a oportunidade de viajar com ele. Essa é outra de suas paixões: viajar! Sempre achei engraçado quando passávamos em alguma cidade com cemitério pequeno e ele dizia: “- Ah! Aqui eu quero morar! Não morre quase ninguém nessa cidade! Olha só o tamanho desse cemitério!”

Minha infância foi muito feliz por vários motivos – e um deles foi a existência do tio Elcyr! Ah! Se toda criança tivesse a alegria de ter a presença dele em sua vida! Tenho certeza de que sua infância seria bem melhor! EU TIVE ESSE PRIVILÉGIO!

Pois esse meu tio querido do coração foi acometido de uma grave doença e esta manhã recebi a notícia de que está hospitalizado. Por esse motivo estou triste. Deus sabe o que faz! Se Ele achar que meu tio já cumpriu sua missão aqui na Terra, vai levá-lo para usufruir de sua companhia. Que vá em paz e até breve!

Por outro lado, se Deus achar que meu tio querido deve permanecer aqui conosco e continuar a nos alegrar com sua companhia, que seja assim: vamos continuar viajando – Foz do Iguaçu, Ponta Porã, Concepcion, Assunção, etc. Venha logo! Estamos lhe esperando!

Então, até breve tio: seja aqui na Terra ou lá no Céu!

Simone Possas Fontana, manhã de 25/02/2010.

Observação: Tio Elcyr faleceu na tarde deste mesmo dia, após eu ter escrito o texto acima.

Simone Possas Fontana

(escritora gaúcha de Rio Grande-RS, membro correspondente da

Academia Riograndina de Letras, autora dos romances

MOSAICO e A MULHER QUE RI)

Minhas Anotações:

- Conto escrito em fevereiro2010 em homenagem ao meu tio Elcyr Fernandes Mesemburg

- Publicado no livro MOSAICO (Editora Gibim, 2011)

- Publicado no blog: simonepossasfontana.wordpress.com