lembranças de uma vida
Ficar só, pensando, quando em volta de nós tudo é silêncio, nos coloca diante do nosso "eu!, mesmo que, no momento, nossos pensamentos sejam banais e que não nos leve a nada, mas, muitas vezes são lembranças, que podem ter marcado nossas vidas.Pensar é muito bom, e podemos mesmo, pela força do pensamento ficarmos sem ter muita noção de quando começa ou termina a realidade. Recordações dão ao ser humano um sentido mais perfeito do que ele é, já que, a faculdade de pensar é o que reafirma a sua superioridade entre os outros seres vivos da terra.
Nossa vida não deixa de ser uma repetição contínua de fatos e acontecimentos, nada é novo no mundo em que vivemos, tudo que recordamos, sentimos ou sonhamos já foi vivenciado por muitos seres, outros comuns mortais como nós.Não é complicado sermos simples criaturas, o difícil é ser um gênio, escolhido para levar sobre os ombros uma responsabilidade maior, o bom mesmo é ser só "gente!,que gosta de samba, cerveja gelada, criança e da vida.
Eu gosto muito de reviver a minha infância, vem a mim, coisas tão próprias das meninice, que me dá ideia que estou rebuscando, entre velhos guardados pedaços de mim mesma...lembranças perdidas no tempo, coisa assim como um velho álbum de cartão postal.Quem hoje em dia, tem lembrança de fazer um?Guarda-se, essas coisas, em caixa, gaveta , quando não se joga logo fora.O álbum a que me refiro não podia ser formado nos nossos dias, eram cartões antigos, de cores desbotadas.Damas de olhar lânguido, casais românticos , mulheres gordas em poses ditas eróticas, flores em cestas rebuscadas,mulheres feias arrastando maridos que tentam fugir das fúria dos guarda-chuvas, como se casamento representasse o domínio das mulher.Eu tinha os meus cartões prediletos, eram três que representavam a trilogia que é a base do cristianismo, a fé, a esperança e a caridade, que eram representadas por três meninas, uma levava na mão um enorme coração de cetim vermelho, outra uma cruz de cetim azul, a esperança , tinha junto ao peito uma âncora de purpurina verde, tudo bem cafona.Tinha até cartão de luto, tétrico, e eu ficava matutando quem poderia ter remetido tal coisa, mas como eu não tinha coragem de tirar os mesmos do seu encaixe, devido a serem antigos, nunca soube.
Apesar de ser para mim tão valioso, ele ficava guardado na garagem da casa da minha avó , dentro de um enorme caixote cheio de palha e louças , que haviam sido trazidas de uma das muitas viagens que a minha família fazia a Europa.Eu tinha até no meu quarto, uma cesta muito grande que tambem, havia vindo em um porão de algum navio, mas ela só servia para guardar os meus brinquedos, e, eu achava a tal cestas, um grande trambolho.Eu gostava mesmo era de revirar, em uma grande caixa de laca, colares, pulseiras e outras quinquilharias que pertenciam a uma das tias.Como seria bom rever todas aquelas coisas, abrir os grandes armários cheios de roupa branca, fronhas perfumadas, camisolas de linho belga enfeitadas de renda, voltar a enrolar nos meus ombros, os boas coloridos, feitos de peninhas tão delicadas que voavam ao menor ventinho.Bons tempos!
O meu refugio predileto para ler, era em um armário bem embaixo da escada, lá eu ficava horas o meio da poeira e do cheiro de mofo, que não me dava alergia.Tantas recordações de um tempo que para mim, parece que foi ontem, mas que passou como o vento, hoje perdido na esquina do tempo.Quem não possue recordações deve se sentir vazio, e o bom de recordar e lembrar de como a infância pode dar vida aos objetos, transformar em nossa cabeça uma cadeira em amiga, e assim eu fiz com uma de balanço, conhecida como "austríaca"!Nessa amiga, eu me sentia muito bem, cheguei de dar a ela um nome, Izolina, que era como chamava uma empregada muito antiga de nossa casa.A cadeira, como tudo mais, ficava na casa da minha avó e o seu lugar era no "jardim de inverno", para mim, a casa era como um castelo, cheia de emoções e descobertas.Teve uma tarde, porem, que ao chegar na casa da vovó, tive o desprazer de não mais encontrar a Izolina.Haviam trocado, e eu odiei a ideia, todos os moveis, uma decoração nova, enfeitava o lugar.
Outra lembrança forte que me ficou, foi de uma pitangueira no sitio dos meus pais, certa manhã, ela apareceu todas cor-de -rosa, coberta de flores, linda, depois, apareceram pequenas lanterninhas vermelhas, seus frutos, lindos, porem o sabor amargo foi a maior decepção.Quantas recordações para enfeitar nossa vida...D.Ida, minha primeira professora, e elas amava a cor verde, escova de dente, saboneteira, tudo verdinho.Ela era noiva a uns vinte anos, esperava pacientemente que o noivo tivesse condições para casarem, coisa que eu não sei se aconteceu ou não, só sei que ela já era mais velha do que a minha mãe, naquela época.
A nossa existência é como um vitral, onde vamos colando pedacinhos de vidro colorido, e quando na velhice, podemos julgar o nosso trabalho de paciência , eu estou feliz com o meu vitral, algumas vezes não devo ter combinado a cor certa, falhado em alguns momentos, pois sendo humanos não somos perfeitos, mas quando procuramos fazer tudo certo, até que dá, vou deixar o sol passar pelo meu vitral para refletir os meus bons momentos e assim, apagar os maus.