Redenção
Hoje alcancei a redenção. Nada poderá mudar isso. Minhas angustias, meus medos, minha ira e fraqueza foram transformadas em paz.
A dor lancinante que me mortificava, tirando o sono, o ânimo, o sossego e a minha lucidez, dissipou-se e não retornará. Sou outro homem, muito melhor do que antes. Estou sereno e pleno.
Nada mais me inquietará. Meu ódio e minha violência foram aniquilados. O meu vício e agonia apaziguados. Não sofro mais. Agora só o amor me domina. Um amor sublime, como o dos meus avós que me criaram. Puro, dedicado, sensato. Sem cobranças, sem ciúmes.
Ah, o ciúme. Maldito ciúme. Maldito... Maldita vadia... Pensa que não lhe vi se insinuando? Vagabunda. Não, não, tudo isso acabou. Eu mudei, sou outra pessoa. Muito mais digna e segura.
Ah, meu amor, por que nasceste tão vistosa? Hein? Responda-me! Para onde vai com essa roupa? Hein? Está com a cara pintada por quê? Você é uma puta? Hã? Não, não, nunca mais brigas, discussões, agressões.
Por que és tão leviana? Hã? O que tanto conversava com aquele homem? Hein? Você está pedindo para apanhar. Safada! Estava falando com quem no telefone? Hã? Desavergonhada! Não, não, eu mudei. Tudo de ruim que havia em mim está morto. Sim, morto. Morto e enterrado!
Morta e enterrada... Enterrada no quintal, vilipendiada, dilacerada, esfolada, a sete palmos do chão. Desgraçada. Toma isto para aprender, vadia. E mais isto e isto... Oh, meu amor, não, não... Não era para ser assim. Você pediu por isso. A culpa é toda sua, meu bem.
Ah, hoje sou outro homem. Sou outra pessoa. Hoje foi o dia da minha redenção. Acabei com o que me fazia mal. Agora só o amor me domina. Um amor sublime, como o dos meus avós que me criaram.