Mente quem diz que lida bem com a própria mente.

Não, não foi o gatilho de uma arma o que dispararam contra mim. Era um gatilho invisível, disparado por alguém que eu não poderia ver que me deixou à beira da morte.

Comecei a morrer na semana em que , enorme engano , achava que estava renascendo : Quando a vida que você gera se esvai te mostrando da maneira mais crua a sua impotência é impossível não se sentir oca, pálida,insignificante. Mas eu lutei, queria mostrar que desistir não estava nos meus planos, que eu precisava continuar.

Queria ressurgir , reiniciar a minha história. Mas o revólver invisível que estava apontado para a minha cabeça disparou :Ninguém quer perder e eu não era culpada pelo que aconteceu . Mas minha própria mente não concordava comigo.

Lutamos: Minha mente armada até os dentes com ressentimentos, culpa e autopiedade e eu miserável, como um soldado de um país pobre, sem recursos, sem um exército poderoso. Ela feroz, eu, covarde. Ela, má. Eu,refém.

As noites em claro tornaram-se minhas únicas amigas: Minha cama parecia me expulsar no momento em que meus olhos não mais me obedeciam .Era uma morte lenta, dolorosa e no mais completo silêncio. Mente traiçoeira, vergonha da minha sombra, do meu reflexo, de mim.

Fugia de possíveis julgamentos, não aguentaria olhares caridosos. A dor era minha, e em meio a minha vida desaparecendo ainda me sobrava espaço para o egoísmo, para as palavras duras direcionadas a quem tentava me ajudar. Boa mira essa que havia disparado o gatilho da arma da depressão, que estava matando o pouco que restava do que eu fui um dia.( dias que pareciam ter pertencido à outra pessoa em outro planeta).

Morri : morri para quem eu amava, para mim, para o mundo. Morri para o que eu acreditava, para o amor, para a confiança. Morri para os dias, morri para o sol.

Queria desarmar-te, ó mente ingrata. Mas sozinha não podia, sozinha era derrota certa,uma luta sem tréguas. Apenas a minha mão não seria suficiente para te impedir de continuar apontando para mim sem dó nem piedade.

Sem que percebesse alguém me levantou : Alguém que se recusou a aceitar meus olhos vazios, meu andar fantasmagórico, minha palidez mórbida, que me retirou daquele túmulo imaginário,onde eu havia me fechado para o mundo, me mantendo na mais completa escuridão por dias demais.

As mãos que empurrei no momento em que apenas queriam me ajudar foram as mesmas que me ajudaram a te desarmar, a te vencer, a te encarar. Nunca quis que fossemos inimigas, mas ter vencido a batalha que você travou contra mim foi minha ressurreição, meu renascimento, meu pleno autoconhecimento . Morri para renascer,desacreditei para poder novamente viver.

Mente quem diz que lida bem com a própria mente...

Débora Consiglio
Enviado por Débora Consiglio em 06/06/2014
Código do texto: T4835216
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