FLOR DE LARANJA
DALVA
Eu estava calmo, mede a primeira boca daqueles vendavais passados; sangrei, mas se possível imprimia um olhar de esperança. Andei devagar, mas sem parar, pois descobrir algo, quando tecia de linha verde meu casaco para o inverno. Segui pelas ruas, elas estavam indomáveis a minha espera. No hotel barato em que eu estava, sentia um cheiro de incenso e naftalina perseguir me pelo corredor de chão encardido, olhei a vidraça embaçada e vi uma sombra se esgueirando entre as arvores La embaixo, era outubro e as folhas caiam furtivas no gramado do jardim. Desci as escadas de madeira e comecei a andar sobre o caminho que me levava a casa de Dalva. Vi uma lâmpada fugaz á minha frente, um leve cheiro de perfume de flor de laranja invadiu me, a noite penetrava meus passos. Na penumbra daquele vale vi seu rosto tão meigo e tão branco. Não sou poeta, sobretudo tive medo dos versos que sonhei recitar para ela durante vinte anos. No fundo eu era um espantalho ali parado ou um homem sussurrante de vinho que evaporava de minha pele em brasas. Os olhos de Dalva me anunciar-me-iam como dono de seu reino, eu seria seu rei. Ela abriu a porta de seu palácio com um beijo terno em meus lábios e me fez assentar naquele trono que ficou a me esperar por tantos anos.