Sobre a menina que sempre sonhava...
Um dia, sem querer, o menino que nunca dormia, de tão perdido que se achava nos seus dias, encontrou (cego) a menina que sempre sonhava; mas não sabia...
Na sua cabeça (cheia de caracóis), ele acreditava que um dia salvaria uma princesa real, o que lhe concederia a condição de príncipe. Mas aconteceu que a menina que sempre sonhava, na realidade o salvaria; tão perdido se achava o menino que nunca dormia...
Na primeira vez que a viu não a enxergou, porém suspeitou nela algo extraordinário (mas deixou passar); a sombra do monstro do mundo ainda preocupava o menino que nunca dormia. Pensou então, “talvez fosse o vento”, mais uma vez transparecendo feliz, no perfume de outono dos cabelos da menina que sempre sonhava; mas ele não o via... havia mesmo era perdido a atenção aguda dos antigos dias.
Mas, subitamente veio o dia em que realmente viu (e enxergou com os olhos de coração), então soube; clarividente revelação! Neste dia marcante de tons nublados, a menina que sempre sonhava riu, mas não um riso qualquer e de sempre. Ela riu o seu riso mágico, aquele que nas suas linhas e sons, portava toda a pureza do universo! Salto veloz para as nuvens do céu e queda displicente (leve como uma pena que cai) para o horizonte sem fim, no meio de tudo, o brilho da luz dos primeiros dias. “E fez-se a luz...”, pensou o menino que nunca dormia, tentando congelar com palavras o riso que viu; mas não conseguia.
Então, o menino que nunca dormia, de boca aberta e sem graça, mesmo sem saber soube: acabara de ser salvo pela menina que sempre sonhava, e seu riso mágico de pureza e alegria (puralegria). Nem importava mais ser príncipe, pois neste riso, com cuidado, se podia ver o dono do céu, resplandecendo e dizendo: “oi, estou sempre por aqui...”
PS. Não associei nenhuma imagem a este post por acreditar que o riso inspirador deste texto, não pode ser descrito com nenhuma imagem. Deixo a imaginação de vocês como sugestão...
Breve nota sobre a menina que sempre sonhava e o menino que nunca dormia...
Um dia sem querer, vi Matheus (meu filhote de coração) brincando sozinho com sua tristeza; tão pequenininho... como um dia eu mesmo fui. Então para alegrá-lo (e a mim também), lhe dei papel e lápis para desenhar. O vendo rabiscar, tive ideia de inventar (com algum esforço) histórias do menino que nunca dormia, parecido com ele (e comigo também).
E aconteceu que, para nossa sorte, também veio Isis (filhota do coração), feliz e forte; com sua alegria veio nos fazer companhia. Então também, pensei que seria bom tentar inventar histórias da menina que sempre sonhava, para acompanhar o menino que nunca dormia...
Mas sempre me preocupava e me perguntava por que escrevia, mesmo sabendo que eles (nem ninguém mais) lia; eu queria ser lido... mas mesmo não sendo, chateado escrevia.
Então finalmente compreendi, com a ajuda do menino que nunca dormia (e agora com a menina que sempre sonhava), que gente grande gosta mesmo é de muitas explicações detalhadas para as suas perguntas bobas e óbvias; e eu tinha me esquecido de pensar (e perguntar) como o menino que um dia eu fui.
Eu continuo a escrever, e por quê? Porque amo, principalmente as pessoas que me acompanham em pensamentos, enquanto escrevo. E o amor (pelo que sei), entre tantas de suas definições, é essa doação gratuita; que nos permite está onde agora estamos...