A vida como ela é

Seu Tê e a dona Luza, foram casados por mais de 60 anos. A diferença de idade entre eles não era muita, ele, seis anos a mais que ela.

Ela faleceu primeiro, acho que aos 86 anos e ele bem depois aos 96.

Iniciaram a vida de casados na região onde nasceram, no longínquo sertão mineiro, limitando com o sul da Bahia.

Os dois, apesar das dificuldades da época, conseguiram crescer financeiramente e ter mais para o sustento, o que lhes deram a condição de poder ajudar os seus pais que eram muito pobres e ainda tinhas muitos filhos dependentes.

Ele lavrador e ela dona de casa. Ambos muito trabalhadores e companheiro do outro.

A procura de melhora, acabaram migrando para uma outra região não muito distante dalí, onde acabaram de criar os filhos e educa-los.

Ele passava a semana no sitio e ela tomando conta da casa na cidade e cuidando dos filhos, que eram sete. Viveram nesta toada bem uns 40 anos.

Todos tinham àquele casal como referência de companheirismo, respeito e união. Eram conhecidos como Tê de dona Luza e Luza de seu Tê.

A dona Luza veio a adoecer e foi levada para a cidade grande para uma cirurgia de risco. Acabou não suportando e veio a falecer.

Conta-se que no dia do velório, um daqueles amigos que foi levar as suas condolências, querendo ser amável e demonstrar a sua solidariedade, aproximou do seu Tê e disse:

- Seu Tê, como o senhor vai fazer agora sem a dona Luza?

Sentado na sua poltrona na sala, com o olhar perdido no tempo – como costumava ficar –respondeu:

_ ô menino, eu estou preocupado mesmo é com minha égua que está lá na roça sem beber...

O amigo meio que desconcertado com a resposta, saiu de fininho.

A vida é assim...

Acontece de um casal passar uma vida inteira vivendo lado a lado, comendo no mesmo prato; tomando no mesmo copo; dormindo na mesma cama; dividindo dificuldades; bonanças; constituindo filhos; vendo sua prole crescer e depois se descobre que nunca existiu entre eles nem carinho, muito menos amor.

Neste caso, a dona Luza e seu Tê, tocaram a vida. A dona Luza não deixou saudades para o seu Tê, é de desconfiar que ela também não levou boas lembranças saudosas, pelo menos é o que deixava transparecer nas suas prosas, quando se falava das coisa do casamento. Passaram pela vida sem serem felizes.

E assim como eles, tem muitos...

Deve ser muito triste viver uma vida ao lado de outro sem um mínimo de sentimento de amor, consideração, carinho, ternura ou seja, de benquerer.

11/05/2014