A PERUA, A SOGRA E A AUTO-ESTIMA

A perua, a sogra e a auto- estima

Era uma perua desenfreada. Já pela manhã, saia gastando tudo, abanando os sete cartões de crédito, maquiada, bronzeada, plastificada, casada com Norberto Bulhões, também bronzeado, ainda não plastificado e maquiado, o tempo diria. E Norberto Bulhões era filho de Proserpina Bulhões (ela odiava seu nome, era o nome da mulher de Satanás e ela tão religiosa) tão cheia de boas intenções, tão magnânima, solidária, capaz, etc.etc. era assim que se via e era assim que passou esse espelho para o filho. E eram ricos, muito ricos. A perua era a esposa. Maristela. Que gastava o que tinha e devia o que não tinha. Viajava, comprava jóias, maquiagem importada, ia para New York nos finais de semana para fazer umas “comprinhas básicas”. Até que um dia a senhora Proserpina houve por bem alertar o filho Norberto, que estou aqui, meu filho como seu anjo da guarda e aproveitava para fazer o sinal da cruz e ajeitar as asas que sempre acreditou possuir, olhe que a Maristela está passando dos limites, trata-se, me perdoe, de uma perdulária e batia compassadamente na mão de Norberto, ela vai delapidar nossa fortuna e fazia novamente o sinal da cruz e a asa imaginária tombava para a esquerda. Norberto, que ouvia sempre os conselhos da mãe houve por bem chamar duramente a atenção de Maristela, que você está gastando demais, o que pretende com isso, assim não dá, não sou burro de carga, etc., etc; Maristela, chorou, esperneou, emagreceu cinco quilos sem regime, teve duas crises de pânico, sonhou que era candango em Brasília no tempo de Juscelino, rezou para São Longuinho, aquele dos três pulinhos, daria os pulinhos se seus cartões de crédito lhe fossem devolvidos pelo marido e...nada. Obedeceu e não saia de casa, não atendia telefonemas, cancelou academia, massagem, tratamento de pele, de cabelo, de gordura localizada e do pé com frieira que nunca sarava e era seu constrangimento. E em assim sendo os amigos de Norberto estranharam o fato e começaram as perguntas, as insinuações, e alguns mais amigos (não sabemos ao certo se o eram, mas diremos isso em função de um bem maior já que somos discretos e éticos) entraram em contato com Norberto sobre o porquê dessa situação, se havia falido, se poderiam ajudar. Não foi um Deus nos acuda - foi Uma entidade que resolveu não acudir, até porque não estava ai para resolver essas “churumelas”. Norberto também emagreceu e depois engordou, explicou como pôde para os dito amigos, clareando o fato sobre Maristela e sua pouca noção de quanto custa ganhar dinheiro no Brasil, ficou com um par de olheiras que lhe deram um ar sinistro, meio Drácula, meio herói do sertão, perdeu dois dentes só de estresse, assaltava a geladeira de madrugada e comia até a quentinha das serviçais; foi ao psiquiatra, que lhe informou, entre Freud e Jung que continuavam a briga sobre o eu, que sua auto-estima estava abaixo de cocô de três, três, bandidos e que deveria se reerguer de pronto e livrar-se do complexo de Édipo –ou seja - sua genitora. Ao que Norberto obedeceu de pronto já que sua auto-estima era a rainha do lar. E, mais de pronto ainda, devolveu os sete cartões de crédito à Maristela e deu-lhe de presente uma viagem para Paris. Sua genitora também obteve seu quinhão. Enviou-a para uma instituição para idosos para os lados de Carapicuíba onde, segundo fontes, havia um sistema de ginástica lingual para controle de palavras, ou seja, dizer somente e sempre através da ginástica: língua no céu da boca: - Olá! - língua para baixo: - Claro! – língua para o lado direito: - Ora, ora! - língua para o lado esquerdo: - Cruzes! - essa última, aos domingos podendo ser substituída por: Oh céus! Ganhou a auto-estima.

Vosmecê
Enviado por Vosmecê em 08/05/2014
Reeditado em 08/05/2014
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