198 - NATAL DIFERENTE E TRADICIONAL

Conseguimos reunir toda a família no Natal de 2002. Embora anão muito grande, nos anos anteriores sempre houve ausências. Neste ano, minha família está assim: eu e Enny; Cecília, Lenine, Lívia, Tomás e Júlia. Denise, Vicente, Luisa e Laís. Alexandre e Virgílio. Fabíola, Anselmo e Clara. Maurício, Susan e Laura. Dezenove pessoas ao todo.

Procuramos manter uma tradição: a ceia de Natal seguida da troca de presentes entre os adultos e distribuição de presentes às crianças. Armamos uma árvore made in China na sala e ao redor da qual os embrulhos e pacotes com presentes vão sendo colocados. De uma certa forma, este ano modificamos um pouco o usual. Nos anos anteriores, todo mundo presenteava todo mundo. Era um excesso de presentes, principalmente de brinquedos às crianças. Procuramos nos adequar aos tempos modernos, com um pouco de moderação e até austeridade. Ano passado foi o ano do racionamento da energia elétrica, que praticamente acabou com a iluminação externa das casas. Neste ano, a alta do dólar, o ressurgimento da inflação nos últimos meses do ano, está dando a tônica para as comemorações: moderação, economia.

Duas mudanças importantes. Primeira: não houve sequer sinal de “frutas de Natal” na nossa ceia. Nada de castanhas, nozes, avelãs e parecidos. Cecília, aliás, preparou um prato especial: uma sopa de mandioca, com pedaços de queijo, servida numa abóbora escavada. Coisa muito brasileira (até, por falar franco, caipira) mas de um sabor inesquecível. Tivemos o tradicional peru assado, preparado por Anselmo, que é bom na cozinha.

Enny, Alexandre e Cecília fizeram, pela primeira vez na história de nossos natais, canarites e putizas, tradicionais nas nossas famílias e que cujas receitas estão sendo perdidas. Os canarites são da tradição da família de mamãe: bolinhos fritos servidos embebidos em mel. As putizas são tradicionais na família do pai de Enny: uma rosca recheada com doce de amendoim em pasta. Duas iguarias deliciosas. Verdade seja dita: os canarites de Enny ficaram mais crocrantes, sequinhos e Alexandre não economizou no mel. Então, ficaram superdeliciosos. Pouca bebida: um vinho tinto, algumas (poucas) cervejas. Esquecemo-nos da champanha. Muitos refris.

Segunda mudança: pela primeira vez, fizemos o “amigo oculto”, uma maneira de simplificar a compra de presentes, pois se compra presente apenas para o amigo sorteado. Somente entre os adultos, claro. Alexandre e Denise não gostaram da idéia, mas participaram. Já Lenine não participou mesmo. Não obstante, alguns presentes foram dados, além do amigo oculto. Como, por exemplo: Lenine me deu uma moringa de vidro, para água, coisa mais feia, de mau gosto. Alexandre me deu uma camisa pólo e um bonezinho que jamais irei usar. Fabíola me deu uma camisa de malha, Virgilio me presenteou com um exemplar de “A Casa das Sete Mulheres”, recém lançado. Maurício, recém chegado de seu estágio na Suíça, deu chocolates finos para todos os irmãos, sobrinhos, para mim, para Enny.

E para finalizar e encerrar de vez com essa besteira de “amigo oculto”, Eu e Enny demos a cada filho ou filha um cheque de R$ 1.000,00. A idéia foi de Enny, que achei sensacional. Os filhos ficaram alegremente surpresos. (Apenas para uma referência de valores: R$ 1.000,00 correspondem a 280 dólares, estando o dólar cotado a R$ 350. Os 5.000 reais distribuídos correspondem a 80% do meu 13o. salário de aposentado).

Assim, tivemos um Natal tradicional, com saborosas comidas de antanho, pratos tradicionais, misturadas com novidades no presentear e iguarias diferentes.

Antonio Roque Gobbo –

Belo Horizonte, 28 de dezembro de 2002 –

CONTO # 198 DA SÉRIE MILISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 04/05/2014
Reeditado em 08/05/2014
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