Em pleno século XXI acreditando em tesouros
Em uma manhã de outono, fui até a praça da escola infantil de minha mãe, para observar as crianças e observar o tempo, pois era uma manhã de sol, muito bonita, onde crianças brincavam correndo pelo praça da escola. Ao chegar observei que, em um canto se encontravam as professoras que vez ou outra gritavam chamando atenção dos alunos , e mais para frente, sentada cabisbaixa na mureta que havia em torno da mangueira, dona Joana triste e pensativa, me aproximei e sentei ao seu lado... Ela olhou para mim com seus olhos azuis e cansados e me ofereceu o mate que tomava lentamente, não aceitei, pois havia me mudado a pouco para o Rio Grande do Sul e como paulista, não havia me adaptado aos costumes ainda. Perguntei-lhe: - Está triste hoje? em seguida ela sugou o mate através da bomba lentamente e me olhou novamente, e começou a contar-me a história de sua família... Dona Joana nascida no Rio Grande do Sul, filha de descendentes de alemães, tinha 1,75 de altura, bem magra, cabelos até a cintura escuros, beirando em torno de um 62 anos, olhos bem azuis e cabelos sempre com uma tintura castanho. Era uma pessoa dura, trabalhadora e ás vezes nos parecia revoltada, extremamente limpa, cuidava da escola com a maior preocupação em que mantivesse sempre tudo em ordem. Dona Joana passou a me contar que os avós tinham vindo da Alemanha e tinham trabalhado no plantio de arroz, em seguida conseguiram comprar terras e começaram a plantar cada vez mais, seus pais continuaram por anos o trabalho dos avós, mas em uma determinada época da vida, quando ela era ainda pequena, tinha havido muita chuva e alagou-se tudo, e os pais tentando salvar a lavoura fizeram empréstimos de agiotas. E não conseguiram pagar, então as terras foram tomadas com tudo, tiveram que ir pra cidade e trabalhar nas casas e os irmãos homens foram trabalhar nas outras fazendas, e as mulheres desde os 9 anos, foram trabalhar em casa de família, enquanto me contava, percebi que seus olhos azuis se tornavam cheios de lágrimas ao lembrar do seu passado... Eu a ouvia com atenção, em seguida me falou dando um sorriso de lado: - Bom agora, tudo melhoraria se eu encontrasse um enterro, dizem que aqui onde nós estamos sentadas, existe um enterro, é só cavar que encontraríamos, olhei para ela surpresa, para ver se realmente estava falando sério, e percebi que sim, perguntei-lhe: - Mas como enterro?!. Ai foi quando para minha surpresa, verifiquei que realmente em pleno século XXI ainda hoje no Rio Grande do Sul, existem pessoas que acreditam em tesouros escondidos. Me explicou que, antigamente em São Borja os missioneiros eram enterrados com uma talha de barro quebrada, com seus metais: dobrões, patacões, libras esterlinas e Bolivianas, tudo ali ao alcance dos olhos, das mãos e da morte. Pois acreditavam que quando colocavam o tesouro junto ao defunto, era para o finado de pagar a passagem para o céu. Fiquei maravilhada com a história, e olhei para ela e perguntei: - E a senhora acredita que aqui existe um enterro? (tesouros enterrados). E ela me respondeu: - Sim, tenho quase certeza. Apenas sorri para ela e disse: - Fique feliz então, porque um dia, a gente desenterra.