A PRIMEIRA VEZ NINGUÉM ESQUECE
Ele entrara na adolescência. Contava apenas 14 anos. O desejo lhe aflorara de maneira tal, que sua mãe quase tinha que arrombar a porta do banheiro, para conseguir que ele saísse daqueles banhos intermináveis, nos quais o barulho da água caindo sobre o chão, insinuava que não tinha ninguém embaixo do chuveiro. E não tinha mesmo.
Sentado sobre o vaso sanitário ficava ele longas horas desfolhando aquelas revistas pornográficas desenhadas por Zéfiro nos anos 1960, que o jornaleiro da esquina vendia secretamente por preços absurdos.
Serginho era assim, menino caladão, mas que, em seu silêncio maquinava mil formas de dar vazão à sua sexualidade. Sua idade e sua curta mesada não o permitiam frequentar os lugares de prostituição, como faziam os colegas mais velhos. Se houvesse nascido maneta, morreria de abstinência sexual antes de chegar a idade adulta.
Tinha várias namoradas e amantes, que na verdade só frequentavam sua fértil imaginação.
A casa onde morava possuía nos fundos um enorme pomar, e não rara vezes ele era descoberto pela mãe ou pelos irmãos mais velhos trepado em uma das frondosas mangueiras extravasando suas fantasias sexuais.
As mulheres vistas nas fotografias das revistas da época, que nem se apresentavam tão “desinibidas” como as de agora ficariam estarrecidas e talvez excitadas, se o conhecessem e pudessem também conhecer seus pensamentos quando contemplava suas fotografias.
Apesar de estudioso, muitas vezes, era surpreendido pela professora viajando em pensamento pelo corpo daquela loura ousada, de olhar sensual e seios desafiadoramente eretos que ele vira na folhinha do salão de barbeiro, completamente pelada. Tratava-se de uma atriz famosa que tinha como sobrenome o mesmo nome de um palácio onde o Senado Federal, na época no Rio de Janeiro, fazia suas seções, e que ele não conseguia pronunciar corretamente. Mas que importava isso? Ela era sua imaginária amante secreta.
Vizinha aos fundos do quintal de sua casa, onde uma das mangueiras invadia com seus galhos o espaço aéreo, morava D. Jandira, bonita senhora, dona de um corpo sensacional apesar de já beirar os 50 anos. Casada com o açougueiro, português mal encarado, forte, ciumento, mas que, segundo se comentava, perdera a virilidade depois de uma cirurgia de próstata.
D. Jandira possuía um discreto buço, que odiava, mas que o marido não deixava que ela o raspasse para que estivesse protegida do assédio de outros homens. Assim ela ficou conhecida como “Jandira Bigode”.
A pobre ardia em desejo, sem ter como expandi-lo em sua totalidade, mas era honesta e inteligente o bastante para saber que uma traição poderia transformá-la em uma carcaça humana devidamente desossada pela habilidade que seu marido tinha com as facas.
O banheiro da casa do casal, não era no interior da casa, ficava localizado no pequeno terreno dos fundos, limítrofe ao quintal da casa de Serginho, e suas paredes não chegavam até o teto, deixando um espaço generoso entre elas e o telhado de zinco.
Aquela tarde em que ela se banhava, o menino, em uma de suas escaladas para o prazer na mangueira invasora, descobriu que de uma altura um tanto arriscada poderia ter ótima visão do banho da mulher, e deslizando suavemente entre os galhos que afinavam cada vez mais à medida que ele subia procurando uma melhor posição, pôde finalmente apreciar pela primeira vez uma mulher completamente nua e ao vivo.
Jandira, que já havia percebido sua presença, massageava provocante, o corpo com o sabonete, e apertava suavemente o bico dos seios.
Pode-se imaginar a sensação que despertava no garoto, que subindo ainda um pouco mais, envergando o galho para poder apreciar melhor, fez com ele se partisse e... TIBUM! Despencou no quintal da mulher, sobre uma trouxa de roupa suja.
A senhora, assustada com a altura da queda e o ruído do baque, com pena do menino, enrolou-se rapidamente na toalha e saiu para socorrê-lo:
- O que houve, Serginho, você está bem? –perguntou ela fingindo não saber que ele estivera lá em cima todo o tempo observando-a.
- Sim, senhora. Acho que machuquei o braço, me dói muito, fui tentar pegar uma pipa presa no galho acima e o que eu pisava se partiu – mentiu ele.
- Venha, vamos lá dentro que eu tenho arnica, vou passar em seu braço e aliviará sua dor.
O braço dele realmente doía, mas a proximidade do corpo dela e o toque de seu seio levemente encostado em seu rosto, já que ela o conduzia amparando-o com um dos braços sobre seu ombro, faziam-no, não só esquecer a dor como excitavam-no tremendamente.
Entraram pela cozinha e quando chegaram à sala, a toalha que cobria o corpo de Jandira escorregou e desceu. Serginho não resistiu. Agarrou-se com ela, que também excitada abraçando-o e beijando-o sôfrega quase o arrastando, o conduziu até o sofá e, ali embolados amaram-se, loucamente.
Quando repousavam, ofegantes, um pouco depois da louca aventura. Ouviram o ranger do portão de entrada da casa.
Seu Manoel, o marido, estava chegando. Pularam do sofá, ela rapidamente enrolou-se na toalha, o menino correu para os fundos e com sua ajuda trepou e saltou o muro, caindo em seu quintal. Jandira Bigode entrou novamente no banheiro e continuou com seu banho. Por pouco não foram surpreendidos.
Serginho, nos dias que se seguiram, com o braço engessado, sempre que ouvia algum de seus colegas comentar ao ver a senhora:
- Lá vem a Jandira Bigode!
Pensava,que eles nunca saberiam que por trás daquele bigode existia uma ardente e fogosa mulher, que lhe proporcionara aquele indescritível enorme prazer e lhe permitira conhecer outro bigode mais espesso, pouco abaixo do umbigo , que eles jamais veriam e que, certamente não a protegeria de suas próximas investidas.
Que infelizmente, nunca mais aconteceram, pois seu Manoel havia vendido o açougue e o casal mudou-se para Portugal, antes que ele houvesse tirado o gesso do braço e conseguisse saltar o muro, sem mais precisar subir na mangueira.