DE VOLTA PARA O SER
Deixaram um certo coração abandonado
e não havia alguém que passasse por lá.
Por aquele lugar tão deserto e tão árido.
Havia dias em que a chuva não perdoava.
Em outros, somente a poeira era engolida.
E outros ainda, o ardor do sol castigava.
Então, largado em uma qualquer esquina.
De uma estrada estranha e acidentada,
voltar pra sua casa era o que mais queria.
Perdido, esquecido e já sem esperanças,
o inevitável infelizmente lhe aconteceu.
Entregou os seus pontos e beijou a lona.
Com o golpe, a mente girava noite e dia.
O pensamento vagava e só perguntava:
Porque tanta mentira e tanta covardia?
A dor o fazia delirar de tão decepcionado,
pois esperava o golpe de qualquer outro,
Menos do coração que foi por ele amado.
Passado os dias e ferimento cicatrizado.
Mais leve, pensou: Que bom! Que alívio!
Fica essa como lição e como aprendizado.
Mais consolado seguiu seu caminho de pó.
Pensava consigo: Nessa eu não caio mais!
E começou a se reencontrar mesmo tão só.
Mas, a solidão doía e não lhe dava sossego.
Faminto, sedento, carente e muito exausto,
quem veio para assaltá-lo foi o desespero.
Caminhando tanto, de repouso precisava.
E apesar dos passos lentos. não desistia.
Pois só queria e almejava chegar em casa.
No meio do caminho ele foi surpreendido
por um outro coração oferecendo carona.
E aceitou para chegar ao lugar de destino.
Na viajem, ambos contaram suas tristezas.
E com o passar do tempo ambos já diziam:
Ocorreu isso com você? Estou na mesma!
E ele logo pensou: um coração como eu!
Certamente esse é um que me entende,
pois nesta vida também muito já sofreu.
Afinidades rolando, esperanças brotando.
Pensou no quanto este mundo dá voltas.
E alegre dizia: Estou para casa voltando.
Enfatizava que estava voltando pra vida.
Que era chegada a sua hora de ser feliz.
E a fé renascia disso acontecer um dia.
Com tempo o outro coração foi mudando.
Voltou a ser o coração que era de início.
Um ser que do nada surgiu, um estranho.
O coração íntimo que tanto compartilhou,
fez exatamente como o outro tinha feito.
Bem no meio de um caminho, o abandonou.
E no canto de outra estrada desconhecida,
abatido, estagnado e triste o coração ficou.
Pois mais uma vez a mesma história repetia.
Triste perguntou: Alguém ainda faz o bem?
Com forte dor dentro dele, bem alto gritou.
Então sua voz ecoou: Alguém... guém... em?
Contemplava os céus com lágrimas no olhar.
De dia agradecia pelas nuvens que o protegia.
À noite reparava as estrelas e admirava o luar.
Mudou seus pensamentos e começou a dizer
que não pensaria no quanto o machucaram.
E faria diferença com as atitudes que iria ter.
Reparou que não era metade de um coração,
mas sim um coração inteiro e que forte batia.
Declarou que podia ser feliz e sorriu então.
Se reencontrando foi seguindo seu horizonte.
O tempo foi fazendo a sua parte em sua vida.
Cicatrizava a dor do coração quase saltitante.
O coração não teve mais pena de si mesmo.
Deu a si mesmo o valor que outros não deram.
Deixou de ser vítima da história do seu medo.
Compreendeu que não precisava de caronas,
que só dependia de seu esforço e empenho.
Ergueu a cabeça e não sentiu mais vergonha.
Admitiu precisar se amar, antes de mais nada.
E num só pulsar descobriu algo tão desejado:
O caminho do ser. O caminho de volta pra casa.