Quero lhe usar
Quando Zé nasceu, a vida disse:
_ Vai, Zé, me usar.
Ele pediu a padim Padre Cíço que ajudasse a ser famoso.
Padim disse:
_ Zé, Juazeiro já tem santo e só tem lugar pra um, mas lá pras banda de Asa Branca não tem santo.
Ele botou no matulão três rapaduras, um quilo de farinha, um cantil d'água, o chapéu de palha na cabeça e se espalhou no mundo.
Chegou numa cidade, procurou emprego, encontrou Senhorzinho Malta. Pediu emprego a ele.
_ Que tu sabe fazer?
_ Santo, seu moço!
Senhorzinho deu uma gargalhada de zombaria e ofereceu uma arma.
_ Cabra do nordeste é bom matador...
_ não é de lá o Lampião?
_ É, mas Lampião só teve um...
_ Você tem algum padrim?
_ Meu Padim Pade Ciço me abençou e disse que aqui não tinha santo.
_ Homem, menino, mas é coisa de pade Ciço. Ele nunca me faltou, sempre que mando um pro outro lado, peça a bença dele.
_ Vá fazer santo, mas não pode ser santo, porque Asa Branca tem dono...
Ele fez muito santo, deixou todo mundo com santo e como ordem de senhorzinho ninguém discutia, ele não podia ser santo. Pegou viúva Porcina e usou...
Senhorzinho o perseguiu, houve um tiroteio na cidade e ele desapareceu numa nuvem.
Tornou-se no Rio de Janeiro um contraventor de jogos de azar, exercitou seu lado Lampião, se sentiu-se feliz... amou, bebeu, bebeu. sorriu...
Em uma noite escura, uma velha feia e com uma foice sentou a beira de seu leito:
_ Zé, eu quero lhe usar!
_ Valha meu Padim Pade Ciço.
_ Filho, eu disse que não quisesse ser santo,nem Lampião, você teimou.
_ O senhor assiste novela?
_ Era só um papel...
_ Desde o seu nascimento, tudo foi novela, você aproveitou a vida como galã. Feche a cortina e termine o filme.
_ Padim, troca essa velha, pela Porcina!
_ Até nessa hora, meu filho, você quer escolher o personagem,
vá deixe a Maité Proença lhe usar.
_ De mãos dadas eles caminharam e uma nuvem os envolveu...