Dias Ruins

..."Haviam dias em que acordava indisposto, não era de um todo melancólico. Mas haviam dias em acordava cabisbaixo, chamava esses dias de dias ruins, não eram frequentes, mas aparentavam demorar uma década para passar. Nesses dias gostava de ir a secretaria da faculdade, geralmente nas noites de quarta - estava sempre mais vazio, o lugar e ele - por lá procurava sempre a mesma atendente 'a gordinha de óculos pode parecer pejorativo, e no começo até era, mas agora ganhava um tom de afeto quando repetia internamente o apelido. Sabia que não era belo, tinha aprendido a lidar com isso, mas haviam dias em que isso o incomodava também junto a sensação de quase inexistência, era uma dor que não sabe de onde vinha e que o massacrava a ponto de desejar não mais existir, posto que sua existência era agora quase insignificante por não ter motivo pra crer que era ele bom em algo ou alguém. Mas ela, a gordinha de óculos, olhava pra ele de uma forma diferente logo pra ele que odiava ser encarado, gostava do jeito que ela lhe olhava - ela o olhava diretamente nos olhos como quem admirasse algo belo algo escondido por trás dos olhares - ele sorria pra ela e ela sorria de volta olhando-o fixamente. Era sim um homem carente, e nos dias ruins ainda mais, mas não corria atrás de atenção, precisava só sentir que alguém o achava belo e parabenizado por ser bom em qualquer coisa que fosse. Ela, a moça de óculos e com sorriso bonito falava pouco, um dia com muita timidez disse a ele que tinha um sorriso bonito, mal sabia ela que com os olhares e aquele elogio tirou dele o peso de mil dias ruins e afastou tantos outros que poderiam vir."

Bruno Brito
Enviado por Bruno Brito em 17/04/2014
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