O falso conquistador
Era uma manhã de domingo meio acinzentado, tão típico de São Paulo, num outono da década de oitenta; quando as duas amigas se encontraram por ocaso.
Uma tinha destino certo. Ia visitar uma amiga em comum, que estava de cama. A outra, não tinha nada surpreendente para aquela dia todo. Então, ao ser convidada, por Isaurinha, resolveu ir junto com a amiga em tal visita.
Pelo caminho, Isaurinha foi relatando à Ivete que a doença de Beth, envolvia algo meio estranho e que ela não entendera muito bem. É que Beth, ao telefone só chorava e mal conseguia contar o que acontecera.
Assim Isaurinha, boa amiga, resolveu ir pessoalmente visitar-lhe e oferecer ajuda.
Já na casa de Beth. Esta se encontrava de cama e inconsolável.
Ao ser indagada pelo motivo. Entre soluços começou a descrever sua
triste história, com detalhes. Reconstituindo todos os gestos e clima
da história, para que as amigas compartilhassem de sua dor e decepção.
- Sabe, Isaurinha? Não é que eu estava na fila do banco, sexta-feira, para sacar meu salário de professora. Quando percebi um homem belíssimo, atrás de mim, me olhando.
- Até eu chegar ao caixa, foram olhares furtivos, meio sorrisos. E o meu interesse por ele foi aumentando.
- E eu pensava: Que belo cavalheiro, elegante, lindo e interessado em mim. Hoje é meu dia de certo. Apesar de ser sexta-feira.
- E com a cabeça nas nuvens. Sonhadora e meio zonza recebi meu pagamento. Coloquei-o, trêmula, num envelope grande que trazia na bolsa e rumei para o ponto do ônibus.
- Isaurinha, qual não foi minha surpresa ao entrar no ônibus. Quem estava atrás de mim? E amiga ansiosa e esperando pelo belo desfecho, respondeu:
- O tal rapaz?
E Beth disse que sim. Ela sentou-se num banco à sua frente e ficou sur
presa, pois ele imediatamente sentou-se ao seu lado. Sempre sorrindo e mostrando interesse.
Até que debaixo de seu agasalho ele indicou que havia uma arma. Era para ela passar o envelope com dinheiro pare ele. Tudo dito sorrindo elegantemente e à meia voz.
- Aí,... Isaurinha, o que mais me dói é que ele era lindo e quem havia de imaginar que ele não era um cavalheiro, mas somente um enganador em busca de um ganho fácil?
E enquanto ela descrevia a cena, em detalhes. Chorando, meteu a mão dentro da bolsa, que estava ao lado de sua cama, e tirou o tal envelope grande e pardo.
- E epa, ...
Ela não estava entendendo nada. O envelope com todo o seu salário estava ali intacto?
Primeiro, Beth ficou atônita, em seguida, ela disparou a rir.
- Finalmente ela estava vingada!
O astuto ladrão levou o envelope errado. Ele levou o envelope com as toalhinhas absorventes que se usara na época da menstruação, e que deveriam ser lavadas por ela, em casa. Era o costume da época. Não haviam absorventes descartáveis ainda.
A febre da jovem professora acabou ali. Todas as amigas riram bastante, ao imaginarem a cara do conquistador com o presente em mãos.
O domingo estava salvo e juntas traçaram novos planos para aquele dia frio, porém agora brilhante.