AMOR E ROSAS ETERNAS
PARA CLARISSE
                -Rosas vermelhas e girassóis, o senhor gostou de qual? – A senhora da floricultura levantou os olhos para olhar o homem parado há frente de um buque de girassóis – são belos girassóis colhidos na primavera.
                Ele olhou para o lado, deu um sorriso curto, usava uma roupa elegante que o tornava mais jovem do que realmente deveria ser.
                -Quero algumas, não estas... – disse ele – olhou em volta acrescentando – quero um compromisso, consegue, pois vai precisar de muitas rosas e por muito tempo.
                A senhora sorriu, “em fim um freguês de posses”.
                -Quantas o senhor quer? Um buquê de rosas vermelhas, um de amarelos girassóis e um de rosas brancas – ele tirou um bloquinho de notas e escreveu instruções.
                Pagou a grande quantia toda de uma vez.
                -Assim o senhor perde dinheiro, não se deve confiar nas pessoas – disse a senhora contando o dinheiro, ele deu de ombros, parecia divertindo-se, ela o achou bonito, maduro, mas tranquilo, segurava firme uma foto na mão.
                -Quero que faça o melhor – disse ele.
                -O senhor ama muito essa moça, então porque vai deixá-la? – disse a senhora.
                -Não vou – ele fez um agrado na cabeça de um rapazinho que passava, tirou do bolso um pirulito e entregou, o menino olhou para avó que concordou, o homem deu a mão para que o menino apertasse e ele apertou depois saiu pela porta.
                Dois anos e dez meses depois entrou uma senhora, bonita.
                -É daqui que vêm as flores, não é? – perguntou ao menino magro da frente da loja.
                -Sim, mas não fornecemos informações sobre o remetente – disse.
                -Sou Laura - com as mãos trêmulas ela desatacou um papel de carta – meu marido esteve aqui dois anos atrás, antes de morrer.
                -Vó! – chamou o menino, pela porta lateral surgiu uma senhora em uma cadeira de rodas, empurrada por uma mulher morena e de ar aristocrático.
                -Então é a Laura? – disse a senhora de mãos presas e fala arrastada.
                -Meu marido esteve aqui...
                -Sim – disse a senhora – um buquê de rosas para cada ano que ele não estaria com a senhora, que triste, um homem tão novo, ele queria que a senhora ficasse alegre, que vivesse a vida, por isso a flores – ela mesmo estando debilitada conseguia levar as mãos trêmulas para retirar as lágrimas com um velho lenço – desculpe é que a coisa toda me deixou emocionada.
                -Ele não deixou nenhuma palavra escrita?
                Ela girou a cadeira e disse pegando um envelope na gaveta.
                -Ele pediu que guardasse essa carta comigo, por mais tempo, mas minha saúde não suporta acho que logo minha mente pode falhar, sou velha e só sou eu e meu neto, por isso telefonei para a senhora – ela suspirou – minha missão está terminada, leia em casa, a senhora foi muito amada, para alguns a vida é uma brisa, para outros um furação, outros tantos uma tormenta - ela tossiu, parecia estar se esforçando – o amor é essa tormenta, não tive um, meu marido era um bêbado, minha filha sumiu no mundo deixando essa criança para uma velha cuidar.
                -Quem vai cuidar dele?
                -Ele teve falta de oxigênio no momento do parto, uma alma boa vai aparecer, fez sete anos ontem – Laura segurou, enquanto inspecionava a carta o menino correu para dentro da casa depois voltou segurando um pirulito amarelado protegido por um plástico.
                -Amigo que me deu.
                Laura sorriu, gargalhada que se misturou com o gosto da saudade.
                Em casa ela sozinha abriu a carta.
                “Meu amor, por tantos anos vivemos correndo para construir um futuro que não virá, tantos dias longe, sem amor, tantas brigas e agora não estarei ai para ver você de cabelos brancos, nem um netinho, nem a sua voz rouca, as mãos ásperas lapidadas pelo tempo. Muitos reclamam da velhice e tantos não conseguem estar lá, meu fôlego é menor, minha vida vai embora antes, queria que soubesse que foi uma honra todos esses anos, curtos vinte anos, lembrei que  nesses anos todos só te mandei duas vezes flores, então essa doce senhora levara um buquê de rosas vermelhas – minha paixão, girassóis – minha esperança, a rosas brancas – acima de tudo somos grandes amigos, que se de tudo a lembrança não bastar, teremos as rosas, se para o poeta o amor é eterno enquanto durar, para os amores como o nosso ele vai durar nesse mundo mesmo quando não estivermos mais, tenho certeza que nos encontraremos novamente. Do seu amor”.
                -Obrigado amor – ela foi até o espelho, no seu reflexo viu o marido – amanhã vou levar um pirulito de menta a uma certa pessoa.

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JJ DE SOUZA
Enviado por JJ DE SOUZA em 13/04/2014
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