O perfume do descompromisso
Jorge Luiz da Silva Alves


 
         Quando tudo parecia morno, meio-meia-idade, alguém (de boa intenção) lançou o perfume na pista; compassado, em três-quatro-três-quatro, o piano elétrico eletrizou toda a cobertura do clube frescurê em Icaraí, na virada da Miguel de Frias, no início da noite boa. Sandra enlouqueceu e lançou braços para o ar em meio o povo bom dos passos-bem-marcados e rodopiou prazeirosamente, da mesma forma quando comandava a banda e a república em Londrina. Como que uma senha para o sucesso, centenas de mãos acenavam para a banda que arrasava um dia inteiro de chuvosas obrigações, correrias para pagamentos de contas, contratos, reuniões, decisões extremas e extremadas, tudo para que a dança chuvosa do profissionalismo evitasse o tango pesado do desemprego, da recessão, das explicações sobre apertos orçamentários em casa e estrangulamentos sociais necessários para se entrar no eixo - graças a Deus, enquanto o uísque, a música, a dança e Sandra dançassem frenéticos e fagueiros, nada mais importava: só o perfume saboroso da descontração, lançado na pista e absorvido pelos filhos alforriados do happy hour prematuramente semanal.

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Jorge Luiz da Silva Alves
Enviado por Jorge Luiz da Silva Alves em 08/04/2014
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