O cão pulguento
- Sai daqui, cachorro pulguento!
E o cão olha a dona, olhos pidões, desconfiado.
- Fora, desgraçado!
E o cão olha a dona, lembe seus pés.
- Desaparece da minha vida, maldição! - e completa a ordem com um ponta-pé.
E o cão, com um ganido lamentoso hesita, e volta, e olha com olhos pidões. Arrasta-se até ela.
- Já mandei desaparecer! - E com um chute mais forte, lança o animal porta afora.
E o cachorrinho vai, rabo entre as pernas, e se coloca a uma distância segura. Deita-se, olhando em direção à casa da dona, esperando um olhar, um aceno. Não come, não bebe. Apenas espera. Não entende. Também não odeia, apenas espera um sinal para correr para sua dona, abanando o rabo feliz, esquecido de todo sofrimento que lhe foi infligido.
E espera ainda mais. E definha em lenta agonia. E geme e morre. E a dona livra-se dele, jogando-o no terreno baldio mais próximo. Um nada, um incômodo. Reclama pelo trabalho que teve. Suspira aliviada por ter se livrado daquela praga, esquecida dos tantos afagos, das festas que ele lhe fazia, da sua fidelidade irrestrita, do amor que lhe tinha.
Afinal, era apenas um cão pulguento.