O Casal
Eu vinha a este shopping esperar por ela, a última garota com quem me relacionei. Era linda, mais jovem que eu, alegre e espontânea. Me enchia de desejo.
Ás vezes eu chegava primeiro e ficava observando um casal. Eles sempre se sentavam no mesmo banco, ele era franzino e comum, usava camisetas xadrez, calça jeans, era magro, dezesseis anos. Ela era magra (muito magra), camisetas brancas, de bandas de rock, calças pretas, cabelos pintados de azul, quinze anos. Estão sempre rindo e conversando e tirando sarro de tudo que os cerca.
Minha juventude foi muito mais introvertida, mais amarga. Não era popular, não era um vencedor. Não sorria. Fazia parte do grupo dos socialmente excluídos por serem estranhos. As garotas me esnobavam, os valentões me intimidavam. Era um desgarrado. Quanto mais eu os observava, o casal, mais desinteressante os achava: Eram meus opostos, eram vencedores, tinham um lugar ao sol, não precisavam se esconder nos cantos escuros pra fugir de uma surra, ou ter seu lanche roubado e ficar com fome. Não conheciam o ridículo que é ser satirizado.
E então um ano se passou. Aqui estou eu andando sozinho pelo shopping e dessa vez não vim esperar ninguém. Não há quem esperar. O mesmo casal segue risonho, continuam sentados no mesmo banco, do
mesmo jeito, como se fizessem parte dali, como se não existisse tempo.
Pra felicidade deles nada mudou.
Pra deles, não pra minha.
Ainda sou o mesmo desgarrado.