Angustia
No céu que escurecia mais cedo, as nuvens passavam rápidas, impelidas pelo vento da tempestade que se anunciava, e, não tardou a cair uma chuva grossa.A leve cortina da sala esvoaçava ao sabor do vento, e, logo ficou encarcada.O homem, que estava só no apartamento ,começou a sentir arrepios pelo corpo magro, sempre temera raios e trovões.A penumbra à sua volta parecia um manto a lhe tolher os movimentos,ele permaneceu ereto, sentado na ponta do sofá, como se fosse um menino assustado.Sem ânimo não ligou em fechar a janela e a chuva começou a molhar o carpete novo.Os raios, formavam sombras na sala aumentando o seu temor.A uma rajada mais forte do vento o vaso, em cima da mesa, virou, entornando as flores e a água.O barulho do cristal se partindo o irritou ainda mais.
Com as mãos trêmulas , ele acendeu um cigarro, vício terrível
que não conseguia largar.Laura vivia reclamando do cheiro do tabaco nas suas roupas, mãos e ,principalmente, no seu hálito.Sentia até, que ela vinha evitando o seus beijos,e, isto ele não podia suportar.As intenções de Laura, até que podiam ser boas, mas ele achava a mulher muito chata e mandona.Ele já estava bem crescido para se cuidar e não ser vigiado o tempo todo.Ele fora louco por sua mulher, agora, porem, sentia muita raiva dela.Nada mais era como fora.Angustiado, passou as mãos ´pelos cabelos e pelo rosto áspero pela barba por fazer.Estava desesperado.Lembrou então de Laura reclamando por tantas coisas,com um sentimento de remorso apagou o cigarro no cinzeiro já cheio.Fumar faz mal!Na verdade o que lhe importava isso agora quando sentia sua vida ruir.O mal já estava feito.Os amigos falavam que ele era problemático, isso para não dizerem coisa bem pior.Tudo bobagem, ele podia até ser um super-homem, acimas do bem e do mal.Tantas coisas negativas vinham lhe acontecendo últimamente, e ele sentiu gelar até os ossos, mas, não se sentia culpado de nada, fora só o sangue que lhe subira a cabeça.
A luz do abajur que pouco clareava, tremeu e apagou de vez.A tempestade estava o auge.O homem sentado , não pensou em procurar uma vela ou lanterna.Depois de algum tempo no escuro, acendeu o isqueiro, levantando o braço procurando aumentar a fugaz claridade, mas, foi pior, parecia que vultos tomavam formas no fundo da sala, e, rápido ele apagou a pequena chama.Parecia até que ele estava ouvindo Laura lhe chamando.Um tremor forte lhe passou pela espinha dorsal.Tantas emoções desencontradas fizeram com ele se sentisse ainda pior, pensou até que fosse desmaiar.A posição forçada que mantinha começou a lhe dar câimbras.Ele tinha que sair daquela sala, talvez se sentisse melhor no seu quarto, apesar do que estava lá.
Com esforço levantou-se.Sentia as pernas bambas, mas, tomou a direção do corredor, e, tateando nas paredes, a cada relâmpago , ele avançava.Na porta do quarto parou para tomar fôlego , teria coragem suficiente para entrar?A janela do aposentado estava fechada e a cortina corrida escurecia ainda mais o ambiente.Pairando no ar o perfume de Laura.Sentiu vontade de vomitar, mas, com esforço entrou no seu quarto,então, tomou um grande susto ao ver a cama vazia, e colcha imaculada branca, esticada, se destacando no ambiente.Como era possivel?Não havia manchas de sangue , nem cobertas desfeitas.A cabeça dele começou a doer e sua visão ficou embaralhada, tomado de uma vertigem o homem caiu desmaiado.
Na sala a luz voltou a brilhar, a tempestade de verão estava se afastando. Uma chave rodou na fechadura da porta e uma mulher entrou.Ela viu o telefone no chão com o fio cortado, o vaso quebrado sobre a mesa molhada, mas não teve medo, estava acompanhada de dois homens fortes, vestidos de branco.No quarto a mulher acendeu a luz e viu o seu homem caido, assim como um boneco quebrado - coitado! ele desmaiou, assim indefeso, não parece a mesma criatura que como uma fera tentou me matar.Essa não foi sua primeira crise, e sei que não será a última.Podem levá-lo para a clinica, eu os seguirei no meu carro...lágrimas corriam dos seus olhos azuis.