Essas tardes perdidas
 
                A vida corre a nossa frente, lembrar-se dos erros dos nossos pais é tão fútil quando criticar um quadro jogado ao chão. O coração anda apertado pelas incertezas da vida, o amor parece sufocante, ao mesmo tempo tão necessário.
                Essas pessoas que andam jogando fora o tempo, sem saber que ele é uma expressão do valor da vida, povo cru, que eu passei parte da vida do lado, alimentando a fome do nada, pessoas brutas, essa gente sou eu.
                Era uma tarde de domingo, quem não sente uma apreensão na tarde de domingo com a monstruosa segunda chegando? Quando parei à frente do mar com ela, de um lado o asfalto do outro o mar azul, então ela desceu inesperadamente os pés na areia para que as ondas os tocasse, pude sentir o vento doce do mar de um lado e do outro a borracha no asfalto e o fedor da comida engordurada dos bares da orla.
                Senti  um aperto necessário no peito de saber que nada daquilo era para sempre por isso a vida é tão valiosa.
                -Vem que a água deliciosa – ela disse tentando me puxar para o paraíso. Então eu fui e meus pés tocaram de forma incerta a areia e pude sentir o frio do mundo e sua fluidez depois de tanto tempo, com seu toque leve pude sentir o paraíso e o nada ao mesmo tempo, a grande questão veio na minha cabeça,se ser é existir, não como os gregos, nem como os franceses, mas como o homem de hoje que não sabe o que é morrer, pois morrer é algo real demais para suportarmos em nosso mundo de fantasias.
                O sol distante se escondia, ao voltar não seria o mesmo sol, pois não estaríamos mais ali, nem por ela, nem pelo mundo.
                -Consegue andar mais um pouco pai? – Ela disse apertando a minha mão – eu te seguro.
                Não podia falar, mas esforcei o passo, ela entendeu que tentaria.
                -Vem olha esse sol, ele não vai esperar...
                Sorri, com passos incertos e defeituosos toquei a água e em um novo batismo a vi sorrir alto e alegre, como se o valor fosse o mesmo que ela atribuia ao toque dos meus pés na água, eu estava ali por ela, não pelo mar.Rosto iluminado pelo poente, minha filha dava gargalhadas luminosas, nesse momento ela me lembrou à mãe e de uma forma sorrateira a minha face repuxada tramou um sorriu.
JJ DE SOUZA
Enviado por JJ DE SOUZA em 30/03/2014
Reeditado em 30/03/2014
Código do texto: T4749535
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